Quem imagina que a polarização política, um mal a ligar o cérebro ao fígado, fica restrita apenas no âmbito dos partidos e entre àqueles que atuam profissionalmente nessa área, está enganado e vem sendo convencido de que esse tipo de antagonismo permeia toda a sociedade, indo, inclusive, parar no seio das famílias, gerando brigas e desentendimentos de toda a ordem.
De fato, essa polarização, por seu grau de insanidade, tem feito muito mal ao Brasil e por extensão aos indivíduos e a todos os grupos, sejam eles consanguíneos ou não. O que parece, no antigo país do futebol, é que essa praga migrou dos estádios e das torcidas organizadas para dentro das casas, contaminando tudo, como uma radiação mortífera.
Para quem ainda não percebeu, este é o legítimo subproduto de um modelo de política à brasileira, feito não de discussões sérias e propositivas, com todo o embasamento ético que esse tema exige. Trata-se aqui de uma rinha de galo, cercada de fanáticos que querem ver briga e muito sangue.
O que não pode ser escondido do público é que essa rinha teve início exatamente no momento em que a mais alta corte do país julgou, per si, a conveniência de soltar nesse ringue o Garnisé de Garanhuns. Deu no que deu. Para onde quer que o brasileiro olhe, lá estão em discussão acalorada um grupo e outro. Casais, com matrimônio marcado deixaram tudo para trás e romperam as relações.
Nas famílias, filhos deixaram de falar com pais, irmãos cortaram relações uns com os outros. Tios, avós, primos, foram cada um amuado para seu canto. No trabalho, colegas passaram a torcer o nariz uns para os outros. Amigos, antes fraternos, deixaram de se falar.
Nas ruas, o clima mudou para pior, com o medo tomando conta de tudo. Enfim, a maldição lançada há anos, do "nós contra eles" vai tomando forma concreta, enfeitiçando cada um. De lado ficaram aqueles que torcem pela volta de um passado que deixou marcas ruinosas e nunca vistas anteriormente. Para outros, a simples menção da possibilidade desse retorno vir a acontecer de fato representa um anátema e uma rendição a um pesadelo permanente.
Não há pontos de contado entre uma posição e outra. O Brasil, que nas urnas revelou seu caráter nitidamente conservador, por obra de uma espécie de forças do além, votou também pela volta do passado. Ficamos com isso a meio caminho colocando em sérias dúvidas o que apresentavam as pesquisas e o que diziam as multidões nas ruas.
Com tanta discórdia, não surpreende que a censura, que se acreditava morta e enterrada, ganhou corpo e músculos em todo lugar, sobretudo nas empresas, com as chefias orientando e mesmo obrigando seus subordinados a votarem no candidato por elas apontado.
Demissões tem sido confirmadas. Assédios, confirmado. A regulação da mídia, como tem pregado o candidato pretérito, de certo trará o recrudescimento da censura política que já é observada e posta em prática contra aqueles que ousam desacreditá-la. O bom sinal é que a censura sempre foi e será grande. O que se está sendo censurando é correto e aponta para manutenção da dignidade humana.
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