ELEIÇÕES 2022

Artigo: O futuro presidente e as mulheres

Correio Braziliense
postado em 05/10/2022 06:00
 (crédito: kleber sales)
(crédito: kleber sales)

SILVINA RAMAL - Mestre em administração de empresas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), empreendedora, pós-graduada em comércio internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ) e escritora

Como os candidatos a presidente vão tratar as mulheres? O objetivo deste artigo é fazer um exercício para verificar como o tema mulheres é tratado pelos candidatos que disputam o segundo turno da Presidência do país. Ele pode ser replicado para qualquer outro tema de interesse.

As mulheres hoje são chefes de família em 48% dos lares brasileiros segundo o IBGE, o que significa que são as principais responsáveis, e em numerosas vezes, as únicas, pelo sustento da família. Essas mulheres provedoras enfrentam desafios muito concretos.

A situação da maternidade funciona como um freio para a carreira. Segundo pesquisa do site Trocando Fraldas, de cada sete mulheres, três são demitidas quando voltam do período de licença maternidade. Outro estudo mostra que uma parte significativa dos empregadores não acredita na capacidade da mulher em retomar suas responsabilidades no trabalho enquanto cuidam de filhos pequenos. Afinal, as mulheres ainda são as principais responsáveis pelas atividades domésticas e pelo cuidado dos filhos.

O segundo grande desafio é com quem deixar as crianças quando se está trabalhando. O sistema de creches público ainda precisa estender-se significativamente, e o sistema privado é caro e com qualidade variável. Finalmente, a questão da segurança pública é um desafio para a mulher que precisa não só deixar seus filhos em casa, mas também ir e vir ao trabalho, podendo ser vítima de assaltos e outras situações de violência.

Esses são os pontos destacados em diversas conversas que mantive com profissionais mulheres. Agora, vamos comparar o que elas demandam com o que os dois candidatos do segundo turno oferecem, de acordo com seus planos de governo.

Vemos que os planos, de forma muito diferente, levantam questões sobre promover o empreendedorismo feminino, a capacitação profissional, a geração de empregos para mulheres e a ampliação da rede de creches públicas. Também falam da importância de garantir a segurança desse público, dando destaque à questão dos feminicídios.

Eu me pergunto se você sabia que todos esses pontos estão contemplados nos planos de governo dos candidatos. Ler os planos é fundamental para votar com conhecimento de causa, verificando a forma como cada um pretende atuar. Os planos estão disponíveis para download na internet. Não se pode confiar só no que se ouve de outras pessoas, é preciso ter contato direto com a informação. Ao longo da campanha, a interação com os candidatos pode ser bastante superficial.

Nos debates na televisão, os candidatos têm pouco tempo para falar de temas profundos e complexos, e parte dos preciosos minutos ainda é gasta com provocações e réplicas. O outro contato mais próximo se dá na propaganda eleitoral gratuita, mas essa precisa ter uma linguagem dinâmica e leve, típica do rádio e da televisão, e caber no tempo estipulado. Além de ler esses planos, verifique a experiência passada dos candidatos em suas gestões anteriores, o que conseguiram na prática de melhorias para o público feminino.

Finalmente, o trabalho não acaba com as eleições. Pode ser que o candidato eleito seja o seu preferido ou não. Mas o fato é que ele assumiu um compromisso com a população brasileira como um todo quando apresentou seu plano de governo. Cabe às mulheres organizar-se para cobrar o vencedor para que cumpra o que prometeu, sob pena de perder votos nas próximas eleições.

É assim que tem que funcionar a democracia para que trabalhe a favor das eleitoras. Precisamos direcionar o debate para nossas necessidades. A discussão acalorada e polarizada muitas vezes nos desvia do que faz diferença em nossa vida e dá liberdade para o político atuar sem ser cobrado no que realmente importa. Quando acompanhamos o trabalho e exercemos pressão para que as promessas sejam cumpridas, usamos a ferramenta da democracia de modo a tornar aquele governo mais afinado com nossos interesses, independente de ser o candidato que votamos ou não. Nessas eleições, e nas próximas que virão, as mulheres precisam se unir e trazer para o debate as questões que fazem real diferença na vida.

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