Lucio Rennó - Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB)
As eleições para governador do Distrito Federal e presidente da República compartilharam um elemento em comum: a emoção da apuração voto a voto para a definição do pleito no primeiro turno. Ibaneis Rocha foi sagrado vencedor com 50,3% dos votos válidos. O segundo colocado, Leandro Grass, do PV, apoiado pelos demais partidos da federação e por Lula da Silva, obteve expressivos 26,25%, com um crescimento eleitoral que, na nossa história, só foi superado pelo próprio Ibaneis em 2018. Ibaneis Rocha passa a ser apenas o segundo governador reeleito no DF, após o sucesso de Joaquim Roriz. Isso demonstra que a volta da direita ao poder no DF, após o fracasso de Arruda, se mostra consolidado ao redor de uma nova liderança. Se somarmos os votos de Paulo Octávio e Coronel Moreno, temos mais 13% de votos conservadores, chegando aproximadamente a dois terços do eleitorado nas eleições para governador.
A confirmação do capital político da direita no DF vem na votação para o Senado, também com um nome novo, Damares Alves, que venceu a Flávia Arruda em uma das maiores reviravoltas do processo eleitoral local. Ambas ex-ministras de Jair Bolsonaro, que também é vitorioso no DF, em seu próprio voto, 51,67%, mas principalmente por ver dois de seus aliados principais eleitos — Ibaneis e Damares. Damares e Flávia Arruda têm, juntas, 71% dos votos. De fato, o bolsonarismo é muito forte no Distrito Federal e não poderá ser menosprezado no futuro.
Isso não significa, de forma alguma, o desaparecimento das forças políticas progressistas no DF, mais à esquerda no espectro ideológico brasileiro. Leandro Grass teve 26,31% dos votos, um desempenho muito acima das expectativas mais otimistas. Rosilene Corrêa teve 22,42% dos votos, desempenho também impressionante. Lula tem 36,85%. Ou seja, os candidatos apoiados pelo PT mostram que lideram a disputa local no campo da esquerda, junto com seus aliados federados, sem muito espaço para outras forças.
A direita, nas eleições majoritárias, tem dois terços do voto e a esquerda o restante um terço. Esse é um cenário muito positivo para o campo conservador, mas um conservadorismo novo, sem Arruda, sem Fillipelli, sem a herança claramente rorizista nas posições de liderança. Há um deslocamento bolsonarista.
No campo federal, Bolsonaro e Lula travam uma disputa extremamente intensa. Cenário bem mais competitivo do que o traçado pelas pesquisas, mesmo às vésperas das eleições. O bolsonarismo é um fenômeno nacional consolidado. Os resultados Brasil afora mostram a força desse movimento conservador, ideologicamente orientado e consistente. É um alinhamento de direita baseado em posições políticas, e não apenas no ressentimento a outras forças políticas, embora o elemento antipetista seja também importante. Mas não é só isso. É sobre preferências políticas de metade, pelo menos da população. Tudo isso após uma pandemia cruel, que deixou o governo bolsonarista encurralado.
O segundo turno se mostra muito mais intenso e o impulso da campanha não está mais no campo lulista. O entusiasmo agora é bolsonarista. Bolsonaro tem palanques muito mais fortes e confiantes em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em Minas Gerais os resultados, apesar de mais neutros, com a vitória de um liberal, se mostram mais favoráveis à agenda bolsonarista. No Rio Grande do Sul, a virada, de acordo com as pesquisas, foi também muito significativa. O Brasil que sai das urnas no primeiro turno é bastante diferente das expectativas colocadas na véspera. O segundo turno das eleições presidenciais é imprevisível.
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