O covarde torturava uma criança de 4 anos. E em local público. Imagine o que mais fazia dentro de casa. Câmeras de segurança o flagraram na recepção do prédio onde morava, em Niterói (RJ), esmurrando e sufocando o garotinho. Não sem antes, claro, dar uma olhada ao redor para ver se havia alguém por perto. No elevador, mais violência. Ele tampou a boca e o nariz do então enteado, imprensando a cabeça dele.
Será que um patife desses se sente um machão, poderoso por machucar uma criança? Será que isso infla o ego dele? O infame tem folha corrida de violência. Responde a outros cinco inquéritos, por lesão corporal, ameaça e injúria contra mulheres, inclusive a própria mãe. Como é fácil ser valente quando os alvos são vulneráveis!
A defesa do criminoso alegou problemas psiquiátricos do cliente. É, no mínimo, curioso. Em seus transtornos, o biltre não agride homens, não parte para cima de quem pode fazer frente à sua força física. Os surtos são seletivos, portanto. É covardia que se chama.
A juíza que determinou a prisão preventiva do crápula destacou a "nítida superioridade do réu face à vítima, o que, por si só, já demonstra a crueldade da conduta e a condição de indefeso da mesma, que conta com menos de 5 anos de idade". "Registre-se que, ainda que a criança tivesse provocado ou irritado seu padrasto de alguma forma, nada justificaria tal medida violenta", acrescentou a magistrada. É covardia que se chama.
Covardia como a que resultou no assassinato brutal de Henry Borel, também de 4 anos. Um sujeito sórdido o torturava rotineiramente. Não satisfeito, levou a cabo a barbárie final: o espancou até a morte. Para a criança de Niterói, o socorro chegou a tempo. Henry não teve essa chance. Quem sabia do intenso sofrimento a que ele era submetido nada fez para salvá-lo.
Por sua condição de vulnerável, crianças e adolescentes são os alvos preferenciais de abusadores. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022, houve registro de 19.136 casos de maus-tratos contra meninos e meninas no ano passado — 26% das vítimas tinham entre 0 e 4 anos e 36%, de 5 a 9 anos. A violência ocorre, principalmente, no ambiente doméstico. Os registros de lesão corporal atingiram 18.461. E isso é um vislumbre, por causa da subnotificação.
Não há e jamais haverá motivo a justificar maus-tratos contra meninos e meninas. Eles não são inferiores aos adultos, muito menos propriedade de pais ou responsáveis. São cidadãos com plenos direitos, inclusive à integridade física e psicológica.