EDITORIAL

Visão do Correio: Depressão também é coisa de criança

É verdade que a depressão em crianças não é umas das abordagens mais comentadas quando se fala no assunto. Mas em tempos de pós-pandemia, pediatras, psiquiatras, psicólogos e escritores têm alertado para o crescimento no número de casos de depressão pós-covid entre o público infantojuvenil. E como dia 10 de setembro é oficialmente o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, nada mais oportuno que alertar adultos para que fiquem atentos às crianças e aos adolescentes.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que os casos de depressão entre crianças de 6 a 12 anos saltaram de 4,5% para 8% nos últimos 10 anos. O mais triste disso é que esse crescimento significativo de depressão entre crianças consequentemente leva ao aumento do número de suicídios entre jovens.

Entre 2014 e 2019, o número de suicídios no Brasil, na faixa etária entre 11 e 20 anos, cresceu 49,6%, praticamente dobrando. Imaginemos esses números durante o isolamento social. A associação entre a pandemia e as mortes foi automática. Crianças e jovens afastados de ambientes sociais, em que estavam acostumados — seja na escola, na vizinhança, nas horas de lazer. No lugar, a solidão, aliada a um aparato tecnológico e a vida vivida por meio de telas.

O que seriam meses tornaram-se anos, e os prejuízos vieram na sequência. Atrasos cognitivos, crises de ansiedade, distúrbios metabólicos, dificuldades no desenvolvimento da linguagem decorrente do uso de máscaras, comprometimento da saúde mental (melancolia, ataques de medo, afastamento social), entre outras alterações.

Ampliando essa realidade para os jovens, além de vários desses sintomas, as rotinas do sono e da alimentação também foram alteradas, assim como a prática de exercícios e atividades fora de casa, o que fez com o que os suicídios se tornassem a segunda principal causa de morte entre jovens brasileiros de 15 a 24 anos, de acordo com informações da Secretaria de Gestão de Trabalho e de Educação na Saúde do Ministério da Saúde.

Aos pais e responsáveis que se veem impotentes diante da gravidade do quadro, é importante não negligenciar os sentimentos e necessidades da prole, especialmente dos menores. Os "sinais precoces", como dizem os especialistas em desenvolvimento infantil, existem e muitas vezes são demonstrados em forma de desobediência, birra, comportamento opositor e intolerância às frustrações.

Diante desses sinais de alerta, o suporte da rede de apoio familiar é fundamental para garantir a saúde mental das crianças e adolescentes em momentos de incertezas. Manter a rotina da casa, com horários para dormir e acordar, incentivar as "boas" amizades, desempenhar as atividades como era feito antes da pandemia e validar os sentimentos dos filhos, ouvindo-os e dialogando com eles, sempre que possível, é uma forma de enfrentar e resolver os problemas. Caso surta pouco em nenhum efeito, a ajuda profissional preventiva é sempre bem-vinda para se evitar uma situação limite.

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