OPINIÃO

Visto, Lido e Ouvido: 'Na dúvida, vá para a casa'

Como a primeira coluna diária da capital, desde Abril de 1960, este espaço de diálogo aberto e franco com os pioneiros vem lutando em defesa de Brasília. Desde logo, tínhamos em mente que o sucesso na consolidação da nova capital, um fato que contrariava muitos brasileiros, que não aceitavam a perda de hegemonia política e administrativa do Rio de Janeiro, significaria a sobrevivência deste espaço e do próprio Correio Braziliense. O fato de nascerem juntas, Brasília e a coluna Visto, Lido e Ouvido, ligou, de forma vital, este espaço aos destinos da nova capital.

O sucesso, ou o fracasso da capital, selaria o destino do jornal. Não por outra razão e por se colocar de forma intransigente na defesa da nova capital e dos ideais daquele distante 1960 que guiavam o espírito e as mãos do então presidente Juscelino Kubitschek, esta coluna sofreu dura oposição e, assim como o mandatário daquela ocasião, aguentou firme, porque, no íntimo, vislumbrava que era o melhor para o país, para os brasileiros e sobretudo para os candangos que para aqui vieram, sem titubear, construir um novo modelo de cidade.

O tempo mostrou que estávamos no caminho certo. Mais do que isso: o tempo e as transformações extraordinárias ocorridas nas últimas décadas no mundo, no Brasil e, particularmente, em Brasília, acabaram por apresentar novos desafios e novos problemas para jovem capital.

Ari Cunha, ciente de suas responsabilidades históricas e dos seus compromissos, mais uma vez, permaneceu ao lado de Brasília e dos brasilienses, apontando erros, mostrando soluções e buscando sempre trazer para o leitor a oportunidade de reflexão sobre esses momentos. Assim, na chamada emancipação política da capital, uma manobra urdida a toque de caixa e sem debate aberto com a população local, sobre suas consequências para a cidade, esta coluna se posicionou contra a medida, pois não tinha dúvidas de que a mudança, sob o manto falso da representatividade democrática, acarretaria sérios transtornos para a capital e representaria uma mudança drástica de direção, contrariando o que havia planejado JK e todos aqueles diretamente envolvidos na construção da cidade.

Não deu outra. A representação política trouxe para a capital, todo um conjunto de problemas sofridos em outras cidades, a começar pela partilha administrativa da capital, entregue em mãos de pessoas, que, na sua maioria, ou não eram pioneiros legítimos ou não demonstravam amor ou carinho pela cidade. A transformação das terras públicas em moedas de trocas políticas, dentro da noção mesquinha: um voto, um lote, provocaria estragos irreversíveis para a capital.

Áreas reservadas a futuras barragens para abastecer a capital de água de boa qualidade e em abundância foram transformadas em assentamentos. Áreas de preservação ambiental viraram, da noite para o dia, residenciais, tudo feito por incentivo de políticos que agiam, inclusive, fornecendo material para as invasões. Escândalos se seguiram, mas os prejuízos eram fato consumado.

Esta coluna, a todo o momento, não se intimidou, denunciando essas mazelas e crimes contra os brasilienses e o futuro da capital. Ainda hoje, esses problemas se repetem. Ainda hoje, mantemos a linha de proteção à capital aberta por Ari Cunha. Denunciamos esses fatos, mesmo sob ameaças e outras intimidações. A violência, o congestionamento dos serviços públicos, a invasão silenciosa que vem sendo feita mesmo na área tombada, com a proliferação de barracos de lata, espalhados até pelos pontos de ônibus, mostra bem a face nefasta e as consequências danosas de uma representação política mal feita e muito bem remunerada, que custa bilhões aos contribuintes e sorvem recursos que poderiam, muito bem, ser destinados à áreas realmente prioritárias.

A invasão de espaços nobres, como a Floresta Nacional, ameaçado de ver diminuídas suas áreas naturais para a implantação de novos assentamentos, mostra que vamos nos aproximando do limite da razão e ficando, a cada dia, mais parecidos com o restante das cidades do país, onde os problemas e as más ações políticas se multiplicam.

Quando colocamos o dedo na ferida, logo surge um falso defensor desse tipo de democracia, que usa o bem público para alavancar candidaturas nocivas a capital. Agora, vemos o absurdo representado pela candidatura de pessoas financiadas, com altas somas de dinheiro, pelo crime organizado, que manda e desmanda nas áreas que controlam, dizendo quem pode ou não fazer campanha nesses locais.

A aproximação das eleições, sobretudo aquela envolvendo a candidatura de políticos locais, deve ser muito observada pelos brasilienses. Ou a escolha errada, naquele político oportunista e sem valores éticos, significará uma ação a mais visando inviabilizar a vida na capital, para a população e para o próprio eleitor.

A pandemia fez aumentar, ainda mais, a distância entre o cidadão e a Câmara Legislativa, por isso mesmo é preciso muita atenção antes de entregar os destinos de sua cidade em mãos desconhecidas. O prejuízo pode retornar para você, em dose dupla e muito antes do que imagina. Todos nós percebemos que estamos imersos em tempos muito estranho, rodeados de problemas e sem soluções à vista. Desse modo, torna-se mais do que necessário a tomada de um compromisso íntimo: não votem em pessoas sem amor pela cidade e por sua gente. Na dúvida, vire as costas e vá para a casa.

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