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Artigo: Bethânia subversiva?

A importância de Maria Bethânia para a música popular brasileira, a relação que ela tem com o palco e outros aspectos de sua trajetória artística foi o que busquei ressaltar em texto publicado na edição de sábado último do Correio. Eu o fiz enquanto jornalista, mas também — é bom que isso fique claro — na condição de admirador das diferentes facetas da cantora baiana e do seu legado para a cultura do país. Escrevi a matéria após assistir ao filme Ninguém sabe quem sou eu (A Bethânia agora sabe!), dirigido por Carlos Jardim, diretor de jornalismo da Globo News, que, como fã incondicional, desde a adolescência, não perde oportunidade para reverenciar a Abelha Rainha.

Antes, ele lançou um livro, de título homônimo, no qual exibe imagens de discos autografados, fitas K-7 com gravações de shows, fotos da "ídola", entre outras relíquias, reunidas ao longo da vida e guardadas como preciosidades num museu particular.

No documentário, em que se pode apreciar imagens — algumas raras — de espetáculos e de outras situações relacionadas com a história da artista, deve-se destacar os fortes e emocionantes depoimentos da cantora sobre Caetano Veloso, Chico Buarque, o diretor de teatro Fauzi Arap, a mãe, Dona Canô, o pai, Seu Zeca, e Mãe Menininha de Gantois, além da adoração por Nossa Senhora. Para mim, que acompanho a carreira de Bethânia desde sempre, chamou a atenção, ainda mais , o momento em que ela se atém a falar sobre algo que pouca gente tinha conhecimento.

Segue aqui um breve relato: Numa madrugada de 1968, Bethânia, na condição de presa, foi levada por agentes da repressão da ditadura militar a um quartel, no Rio de Janeiro. Acusada de subversiva, se apresentou a um coronel que a interrogou sobre o show Opinião — que ela havia feito quatro anos antes—, o irmão, Caetano Veloso, e o livro Bethânia — Guerreira — Guerrilha, escrito pelo jornalista Reynaldo Jardim. Depois de responder às perguntas e esclarecer os fatos, a ordenaram que voltasse para casa, mas com uma determinação: durante um ano, às quartas-feiras, teria de se apresentar ao DOPS no centro do Rio.

Aqueles tempos sombrios, que deveriam estar restritos aos chamados anos de chumbo, ainda hoje são vistos com normalidade por alguns, que, suponho, os querem de volta.

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