Quem vê Dorival Júnior perto de se classificar para a primeira final de Copa Libertadores da América na carreira depois da vitória por 4 x 0 contra o Vélez Sarsfield, no estádio José Amalfitani, na partida de ida das semifinais, talvez não lembre que era ele o técnico daquele Santos fantástico do primeiro semestre de 2010. Há 12 anos, Dorival uniu no mesmo time Ganso, Robinho, Neymar e o então promissor André. O quarteto conquistou o Paulistão, a Copa do Brasil e encantou o país.
Aquela, até então, era a melhor versão de Dorival Júnior. Taticamente, havia um triângulo no meio de campo do Santos formado por Arouca, Wesley e Ganso; e um trio de ataque formado por Neymar, Robinho e André. Uma das virtudes do treinador foi acomodar dois jogadores habituados a atuar na mesma faixa de campo em lados diferentes. Neymar ficou com a ponta-esquerda. Robinho se adaptou à direita.
Dorival Júnior recorreu a uma outra figura geométrica para colocar o Flamengo nos trilhos. A grave lesão de Bruno Henrique fez com que ele adotasse um losango no meio de campo. Virou solução. Thiago Maia assumiu o papel de primeiro volante, com Everton Ribeiro à direita, João Gomes à esquerda e Arrascaeta à frente do trio, livre, leve e solto para ajudar Gabriel Barbosa e Pedro.
O sistema lembra, por exemplo, o jeito de jogar daquele Cruzeiro autoral de 2003, assinado por Vanderlei Luxemburgo. O timaço da tríplice coroa. Havia um losango com Maldonado, Augusto Recife e Wendell. Alex no papel de maestro. E a dupla formada por Aristizábal e Deivid, que deixou o time durante a temporada e deu lugar a Mota.
O plano de Dorival Júnior lembra, ainda, o Milan da temporada de 2004/2005 configurado pelo italiano Carlo Ancelotti. Havia um losango no meio com Pirlo, Gattuso, Seedorf e Kaká. Na frente, o ucraniano Shevchenko e o argentino Crespo. Um senhor time!
O concerto de quarta-feira diante do Vélez Sarsfield, na Argentina, mostrou um Flamengo em evolução. O que estava bom parece melhor por dois motivos: o comprometimento coletivo com a redução de espaços na recomposição e a movimentação constante do meio para a frente. O sistema dá impressão de rigidez, mas na prática há muita movimentação e trocas de posição. A linha de passe na trama que termina com o passe de futevôlei de Gabriel Barbosa e o gol de Everton Ribeiro é belo.
O torcedor rubro-negro pode reclamar dos desperdícios do Gabriel Barbosa, porém, a entrega tática do ídolo é de tirar o chapéu. Lembra o papel assumido por ele na conquista da medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Fazia a recomposição pela direita sob a batuta de Rogério Micale no quarteto com Neymar, Gabriel Jesus e Luan.
Em tempos de técnicos estrangeiros no país do futebol, a escola brasileira vive tempos de "Dorivalismo" e a "nação" parou de clamar pela segunda vinda de Jesus.