O panorama é assustador: o Brasil está longe de atingir a meta de cobertura vacinal para a poliomielite, de 95% — estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como segura na proteção contra a doença. O público-alvo da campanha nacional de imunização, em curso desde 8 de agosto, são crianças menores de 5 anos, num total de 14,3 milhões. Mas, até segunda-feira, apenas pouco mais de três milhões tinham recebido as doses.
Ao não aderir à vacinação, o Brasil expõe suas crianças a um perigo avassalador. Conforme destacou a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), uma em cada 200 infecções pela doença leva à paralisia irreversível de membros, principalmente pernas. E entre os atingidos pela enfermidade, 5% a 10% morrem por causa de paralisia dos músculos respiratórios.
Como o país não registra casos de pólio desde 1989 — graças, justamente, à vacinação em massa que costumava fazer —, há a percepção de que a doença não oferece mais risco. Um grave equívoco. O vírus continua a circular pelo mundo. Há surtos em quase três dezenas de nações.
Mas não é só esse ponto a explicar a baixa cobertura vacinal. Há as fakes news sobre imunizantes, disseminadas, inclusive, por autoridades públicas; e a falta de campanhas massivas do governo alertando para os perigos e orientando a imunização. Todos esses fatores contribuem para a tempestade perfeita em favor desse mal.
Ante a baixa adesão à vacina, a SBIm lançou, no último dia 22, a campanha "Paralisia infantil — a ameaça está de volta", que empresta o título a esta coluna. O presidente da entidade, Juarez Cunha, foi enfático: "Temos uma geração que, graças às vacinas, não sabe como a pólio é terrível. Não podemos aceitar que crianças deixem de andar ou até mesmo sejam obrigadas a passar a vida com auxílio respiratório por causa de uma doença prevenível. Podemos ter de enfrentar uma tragédia em breve, mas ainda há tempo de evitá-la". É isso. A poliomielite não tem cura, mas tem prevenção: a vacina. É segura, eficaz e gratuita.