opinião

Artigo: Voto pela democracia

Domingo é dia de exercer o papel de cidadão. Mas também de relembrar aqueles mais de 686 mil cidadãos cujos títulos eleitorais foram cancelados para sempre pelo descaso com a vida

Rodrigo Craveiro
postado em 28/09/2022 06:00
 (crédito:  Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

O próximo domingo é dia de um encontro decisivo com a democracia. A mesma democracia que foi gerada depois de décadas sob o domínio do medo. Quando os calabouços do Estado impunham horror a quem ousasse discordar da tirania. Onde mulheres eram torturadas e tinham serpentes enfiadas nos genitais.

Onde homens urravam de dor lancinante, enquanto seus corpos se equilibravam sobre o pau de arara e o choque elétrico lhes penetrava a alma. É por esses homens e mulheres que devemos votar. Pelo apreço à liberdade de escolher quem vai liderar o Brasil pelas sendas da democracia, longe do medo e da ameaça.

Distante de toda a falácia construída em cima da pseudoameaça comunista. Porque manipulação das massas faz parte do jogo de poder. E um povo que abandona o senso crítico é massa de manobra para quem pretende se perpetuar nas benesses palacianas. 

Domingo é dia de exercer o papel de cidadão. Mas também de relembrar aqueles mais de 686 mil cidadãos cujos títulos eleitorais foram cancelados para sempre pelo descaso com a vida, pelo negacionismo, pela rejeição à ciência, pela aposta na economia e pelo desprezo para com a saúde. Serão 2.450 seções eleitorais a menos.

Gente privada de exercer a cidadania, mas, principalmente, do convívio com seus entes queridos. Tiveram-lhes roubados o direito à vacina, o sorriso, a vontade de amar, a possibilidade de respirar, de tocarem o rosto do filho, de beijarem o pai ou a mãe. De um dia terem netos ou bisnetos. Domingo é dia de frases, que não deveriam terem sido ditas, ecoarem no coração de quem crê na humanidade.

Domingo é dia de zelarmos pela igualdade de direitos, de depositarmos esperança em dias melhores, de acreditarmos que o homem não precisa viver de ossos nem de restos. E que a dignidade é inalienável e inegociável. Dia de entendermos que uma nação não precisa se lançar na pobreza, mas construir a prosperidade e a pujança. De sabermos que o meio ambiente é semente sagrada para o amanhã.

E que nossos filhos, netos e bisnetos sofrerão com as consequências de se priorizar a força bruta do capital à delicadeza mansa da natureza. Domingo é dia de reencontro com o que ainda de bom nos resta: o amor pela nossa nação. Não um amor recalcado em promessas messiânicas, em slogans patrióticos vazios e em proselitismo político-religioso, mas um amor incondicional e desprovido de ódio. 

O futuro do Brasil está em xeque. A democracia tem uma faca pressionada contra o pescoço. Cabe a cada um de nós zelar por ela, o bem imaterial mais sagrado da civilização moderna que não deseja escorregar rumo ao abismo da truculência e da ditadura. Que o momento do voto seja de alegria e, sobretudo, de reflexão.  Mas que também seja o compromisso de forjarmos os rumos de nossos próprios destinos. Por nós. Por nossos descendentes. Por nossa sanidade.Por nossa democracia. 

 


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