Ditaduras, por suas características políticas ruinosas, necessitam, tanto para a sua ascensão, quanto para sua consolidação e prolongamento no tempo, de estratégias moldadas em mentiras e muita propaganda de governo, na qual a figura central do ditador vai ganhando uma presença cada vez mais absoluta, de modo a confundir o governo e, principalmente, o Estado, com o próprio mandatário.
É do jogo e sempre foi feito dessa maneira, em todo o tempo e lugar. Mas até que essa ascensão se solidifique e se torne incontestável, é preciso ainda desconstruir e mesmo destruir todo o sinal de oposição, classificada agora, como inimiga do Estado e do povo. Para dissimular ainda mais essa tirania, o substantivo "povo" passa a ser uma palavra corrente na novilíngua da ditadura, embora nada signifique de fato.
Povo é sempre uma abstração política usada em nome de algo concreto e perigoso. Para confundir a opinião pública, outra abstração moderna, são realizadas eleições com aparência e jeito de democráticas. Por trás dos biombos, a farsa se impõe, com a propaganda oficial anunciando os resultados quase unânimes do pleito em favor do mandatário. Diante de números como esses, todas as esperanças são poucas. É justamente junto ao povo que os ditadores retiram o combustível para suas façanhas, em forma de carne humana.
É preciso carne para manter as fornalhas do poder absoluto aceso. Carne e sangue. A cumplicidade de muitos e a indiferença do mundo, dito civilizado, dão a permissão e o agrément para que tudo ganhe ares de normalidade, com o ditador sendo aceito e até saudado nas rodas de conversa e nos encontros internacionais. Ninguém, por medo ou diplomacia, ousa dizer que ali está um autêntico açougueiro de gravata e capital. Tem sido assim ao longo da história humana.
Mesmo a modernidade, com seus fóruns internacionais, repletos de pessoas sofisticadas, mostram-se simpáticos e não ousam impedir ou contrariar a sanha desses novos Calígulas. A invasão da Ucrânia pelas forças de Putin, não é uma disputa armada entre um Estado contra outro, mas uma guerra de origem pessoal, travada por um déspota contra uma outra nação livre e autônoma e que é arrastada para esse conflito por uma decisão absolutamente subjetiva desse mandatário, para dar continuidade à uma estratégia de permanência no poder que exige, em contrapartida, que haja um clima de guerra sempre presente.
É na fornalha das guerras que os ditadores obtêm o combustível necessário para seus governos. A paz é contrária aos propósitos dos ditadores, porque deixa tempo de sobra para a reflexões da sociedade, algumas de caráter contestador. Ocupados em guerrear, não sobra às plebes tempo para elucubrações do tipo democráticas. É preciso a marcha contínua dos canhões.
Depois de, literalmente, mandar para o moedor de carne da Ucrânia, mais de 100 mil jovens russos, que retornarão para suas famílias em forma de cinzas, armazenadas em latas de alumínio, o ditador paranoico, manda alistar, à força, mais 300 mil homens em idade produtiva para que sigam o mesmo destino.
Cientes da morte anunciada, centenas de milhares de jovens fogem em direção às fronteiras para escapar do destino certo. Serão outros 300 mil mortos a servirem de bucha de canhão, com suas carnes e entranhas transformadas depois em medalhas e condecorações militares douradas, a ornar o peito desse bravo facínora e de seus comandantes, mesmo sabendo que todos eles se mantiveram à milhares de quilômetros do front de guerra. Nessa marcha bélica contínua, depois da Ucrânia, outros países, necessariamente serão apontados como o alvo da vez, até que não reste nada a Leste e a Oeste.
Saiba Mais
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.