Por Cristovam Buarque - Professor emérito da UnB e membro da Comissão Internacional da Unesco para o Futuro da Educação
O eleitor não é chamado para construir o presidente que deseja, mas para escolher entre os candidatos que lhe são oferecidos. Entre os atuais, Lula tem mais condições que os outros para dar coesão e rumo ao Brasil. É capaz de reunir e dialogar com patrões e trabalhadores, ambientalistas e agronegócio, analfabetos e universitários. Tem condições de formular um rumo para o conjunto do país e para atender aos interesses de cada grupo, convencendo-os dos limites de recursos fiscais, ecológicos e políticos.
Lula tem biografia de líder aglutinador, de que o país sempre precisou e precisa ainda mais agora. Seus oito anos de presidência foi um período de respeito e solução de conflitos. Vinte anos depois, demonstra ainda mais nitidamente essa vontade, ao escolher Geraldo Alckmin como seu vice-presidente. Com José Alencar, ele demonstrou vontade de aglutinar com empresários, agora, demonstra também com as forças políticas.
Durante a semana, Lula reuniu ex-candidatos a presidente que disputaram com ele no passado por partidos diferentes, com visões e biografias diferentes, unidos agora em busca de quebrar divisões e construir uma frente para elegê-lo, outra vez. Foi capaz de aglutiná-los na campanha e já provou que é capaz de aglutiná-los no governo, como fez quando presidente: defendeu os interesses dos mais pobres, dando prioridade a investimentos no social, sem sair dos limites dos recursos fiscais. Quando necessário, consegue convencer os líderes, sindicais e dos pobres, para a necessidade de esperar antes de ter as reivindicações atendidas, também de convencer a parcela rica a abrir mão de privilégios para construirmos um Brasil justo, eficiente e sustentável.
Percebe que o tempo exige atender às necessidades sociais com responsabilidade fiscal e ecológica. Seu governo foi comprometido com o social, responsável com a economia e deu elevado prestígio internacional ao país. Vinte anos depois, ele tem explicitado, em debates, que o governo e o governante precisam passar credibilidade, previsibilidade e estabilidade, além de compromisso com a solução de cada problema que o país enfrenta. Isso exige sensibilidade aliada à responsabilidade. Lula fez um governo com rumo: responsabilidade econômica, compromisso social e presença internacional. Tudo indica que pode repetir isso com mais experiência e cuidados para evitar erros e desvios das equipes.
Na semana passada, o Brasil ingressou em seu terceiro século, com economia potente, mas estagnada; com território integrado, mas a sociedade brutalmente dividida; com décadas de democracia, mas instituições frágeis e política sem credibilidade; o Estado organizado, mas esgotado fiscal, gerencial e moralmente; a educação degradada; a desigualdade crescente; a ciência e a tecnologia ameaçadas; o prestígio internacional no ponto mais baixo desde os tempos de escravidão.
As primeiras décadas deste novo século exigem missões mais difíceis do que o desenvolvimento, a construção da infraestrutura, o desbravamento do Centro-Oeste realizados na segunda metade do século 20. Exige superar o quadro de pobreza, aumentar a produtividade, construir um sistema educacional com qualidade para todos, quebrar o burocratismo, a ineficiência e a corrupção do Estado; comprometer cada corporação com os interesses da nação. Tudo isso passa pela visão e liderança do presidente. Entre os candidatos que temos, em 2022, Lula é o único com experiência para fazer essa condução. Portanto, para dar os primeiros passos no nosso novo século, o Brasil precisa eleger Lula e não deve esperar para o segundo turno, porque tudo indica que é melhor evitar as arriscadas quatro semanas entre o primeiro e o segundo turno.
O atual presidente, que busca reeleição, repete que só respeitará o resultado das urnas se estiver pessoalmente convencido que não houve uma fraude, que ninguém imagina. Tudo indica que já está convencido que não vencerá e preparado para declarar que venceu, usando algum mecanismo golpista para se perpetuar no poder, como tentou Donald Trump, nos Estados Unidos.
Tudo indica que Lula é o único que tem chance de barrar esse risco. Não há razão para preferir adiar a vitória da democracia para o dia 30, se ela pode vir no dia 2, sem os riscos das imponderáveis quatro semanas entre os dois turnos. Por isso, o Brasil precisa de Lula, já.
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