EDITORIAL

Visão do Correio: Paz é construída pelo bom senso

Correio Braziliense
postado em 24/09/2022 06:00

O aviso do presidente da Rússia, Vladmir Putin, de que poderá recorrer às armas atômicas para derrotar a Ucrânia, no conflito que se arrasta por sete meses, deixou o mundo em alerta. A ameaça foi destaque na 77ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, ocorrida na terça e quarta-feira desta semana. O secretário-geral António Guterres ressaltou os impactos da guerra no agravamento da fome em todo o planeta e defendeu a instauração da paz, na abertura da reunião. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que discursou no segundo dia do encontro, foi enfático ao declarar que os russos não ficariam sem resposta se apelassem para artefatos atômicos contra a Ucrânia, que conta com o apoio financeiro e bélico norte-americano. Mas alertou que, em caso de uso de armas atômicas, não haveria vencedores. Todos, segundo Biden, seriam derrotados.

Biden bem sabia do que estava falando. Setenta e sete anos atrás, o seu país lançou bombas atômicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Pelo menos 110 mil pessoas morreram com a ação americana, autorizada pelo então presidente Harry S. Truman. Quem não sobreviveu, conviveu com graves sequelas decorrentes do insano ataque. A atrocidade foi um marco em meio à Segunda Guerra Mundial, provocada pelo expansionismo da Alemanha nazista, comandada por Adolf Hitler. O líder alemão foi responsável pelo Holocausto de mais de 6 milhões de judeus em campos de concentração e pivô do conflito global (1939-1945), considerado um dos mais sangrentos da história contemporânea, que resultou na morte de pelo menos 60 milhões de pessoas em campos de batalha.

A investida atômica contra o Japão é lembrada todos os anos. No mês passado, a ONU promoveu a 10ª Conferência da Revisão das Partes do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, que entrou em vigor em março de 1970, e é reavaliado a cada cinco anos, por representantes de 191 países que subscreveram o acordo.

O resultado do encontro foi frustrante. Depois de quatro semanas, a Rússia rejeitou partes do texto que destacava a preocupação sobre o controle das instalações nucleares ucranianas, sobretudo devido à ocupação da usina nuclear de Zaporizhzhia, a maior da Europa, pelas tropas russas. A indisposição de Putin para dialogar um diálogo com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, é explícita ante suas exigências que, na avaliação de analistas, ignoram a soberania da ucraniana sobre seu território, indicando que o fim do confronto entre as duas nações está muito longe de ocorrer.

Nos últimos 77 anos, os países não deixaram produzir e fazer uso de bombas nucleares. Pelo menos 2.053 artefatos foram detonados no mundo: Paquistão, dois 2; Índia, quatro, China, 45; Reino Unido, 45; França, 210; Rússia, 715; e Estados Unidos 1.032. Apesar de uso inconsequente de artefatos atômicos, a ameaça russa ultrapassa o limite do absurdo. Nos dois últimos anos, a humanidade enfrentou a maior crise sanitária dos últimos 100 anos, cujas perdas de vidas e sequelas ainda são uma tormenta para milhões de pessoas que sobreviveram à covid-19, inclusive para russos e ucranianos.

Armas nucleares táticas, que produzem menos danos, ou quaisquer outras abreviam vidas. Nenhum governante tem a prerrogativa de decidir quem vive ou quem morre. Por maiores e mais profundas que sejam as divergências, o bom senso e o diálogo são essenciais à construção da via do entendimento, a fim de chegar à paz. As marcas de Hiroshima e Nagasaki não podem ser jamais esquecidas.

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