sociedade

Artigo: Construção da humanidade pacífica, igualitária e altruísta

Correio Braziliense
postado em 22/09/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

DIOCLÉCIO CAMPOS JÚNIOR - Médico, professor emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria, membro titular da Academia Brasileira de Pediatria, ex-presidente do Global Pediatric Education Consortium (GPEC) — Email: dicamposjr@gmail.com

O significado da palavra humanidade deve ser entendido com base nos conceitos que geraram sua criação. De fato, em conformidade com os pensamentos do sábio historiador Cícero, da era romana, humanitas refere-se à comunidade formada por seres humanos cuja energia mental cultiva o nobre valor do altruísmo, a ser visto como sabedoria da alma da espécie Homo sapiens. Não se pode, pois, falar em progresso da humanidade se esse princípio não for respeitado.

A humanidade verdadeira vem sendo estruturada vagarosamente. É a maneira de construir, com coerência, a histórica sociedade da espécie humana. De fato, o humanismo é inspirado na prática de princípios morais e éticos, sem os quais prevalece o animalismo que inviabiliza o Homo sapiens. São normas comportamentais criadas pela espécie humana ao longo de toda a sua existência no planeta.

Assim, o desafio que a humanidade enfrenta, para compor uma sociedade justa, igualitária e acolhedora, é inspirar todas as suas ações nos valores morais e éticos por ela concebidos e propagados. Um dos exemplos que comprovam o atraso da espécie humana diante dos avanços científicos produzidos é a cultura bélica que tomou conta, de forma cada vez mais sanguinária, da vida dos habitantes do planeta Terra. Na verdade, a guerra mantém-se como modalidade do poder de alguns países, cujos governantes ignoram os valores morais e éticos para priorizarem o investimento governamental nas diversas armas bélicas, inclusive naquelas que são nucleares.

Com o uso de tais equipamentos, podem impor seus objetivos guerreiros e invasivos, que consideram perfeitos, às populações de outros países cujos governantes não são desumanos. É o que está a ocorrer atualmente na Ucrânia, que, há seis meses, vem sendo agredida pelo governo russo por meio de bombardeios avassaladores e constantes; fuzilamentos diários de ucranianos; e ocupação de regiões daquele país.

Já está também comprovado que os governantes com formação bélica, como o da Rússia, menosprezam o valor do diálogo com representantes dos países que são alvo de guerras. Impedem, assim, que seja construída uma solução pacífica e humanizante.

A prática do diálogo pressupõe consistente educação do ser humano. Trata-se de investimento a ser sempre mantido em favor de uma sociedade humanista, respeitosa e fraternal. As autoridades que desprezam a educação jamais cumprem o sagrado objetivo da paz humana. É o que sofre o continente africano.

Na verdade, a África era e continua sendo uma área das mais isoladas do planeta. Foi invadida, ocupada, colonizada e explorada por outros países, mormente da Europa. Sua população negra original continua sendo vítima da exploração abusiva nos países para os quais foram levados como escravos. É o que ocorre no Brasil, mesmo após a abolição da escravatura em 13 de maio de 1888.

Na Africa do Sul, que esteve sob o domínio da Inglaterra e da Holanda, a escravidão foi marcante, dada a característica do apartheid como isolamento imposto aos negros e brancos daquela nação. A biografia que mais se projeta nesse injusto e abusivo cenário é a do advogado Nelson Mandela. Foi o sul-africano que mais lutou contra a escravidão e respectivo apartheid.

Dedicou-se de corpo e alma, sem violência nem agressão, à tentativa de pôr fim àquele regime social degradante que comandava seu país. Foi detido e cumpriu pena de 27 anos de prisão. Mesmo durante tão amargo período de vida, manteve-se engajado no movimento pela libertação da África do Sul. Tão logo deixou a prisão, seu mérito manteve-se à tona. Recebeu Prêmio Nobel da Paz, foi eleito o primeiro presidente da República da África do Sul e é hoje considerado o mais valioso líder da nação sul-africana.

Os cenários acima descritos são de selvageria arrasadora, embora não sejam os únicos. Muitos outros possuem a mesma e desumana dimensão. Torna-se evidente que a educação de qualidade para todos os povos do planeta é a sólida iniciativa capaz de converter os impulsos animalescos da espécie Homo sapiens na alma humana que lhe cabe possuir, cultivar e propagar.

Só assim a humanidade poderá superar os desafios que lhe são impostos, entre os quais educação qualificada, eliminação da guerra e respectivas armas, construção da paz eterna, respeito ao próximo, igualdade de direitos, fim da fome, diálogo construtivo e na dimensão que merece, trabalho igualitário para todos, desconstrução de linguagem agressiva, investir na saúde e educação da infância para bem revelar o seu potencial cognitivo.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.