O Banco Central brasileiro terá o seu grande teste de independência nesta quarta-feira, quando definirá os rumos da taxa básica de juros (Selic), hoje em 13,75% ao ano. A 12 dias das eleições presidenciais, parte do mercado financeiro não descarta a possibilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) ser obrigado a elevar mais uma vez o custo do dinheiro, mesmo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrando deflação há dois meses. Essa ala de especialistas acredita em aumento de 0,25 ponto percentual, para 14% anuais. A maioria, porém, fala em estabilidade, mas descarta cortes na Selic tão cedo. Há muitas incertezas no quadro macroeconômico, sobretudo a partir de 2023, com o novo governo.
O Brasil aparece na lista dos países com as maiores taxas reais de juros do mundo, variando entre 6% e 8% ao ano quando descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses. Foi a forma que o BC encontrou para tentar conter a escalada dos preços, agora amenizada por medidas pontuais tomadas pelo governo e pelo Congresso às vésperas de os brasileiros irem às urnas, como a redução de impostos sobre combustíveis e energia elétrica. A própria autoridade monetária vem dizendo, em discursos de seus diretores e por documentos oficiais, que o momento ainda é complicado, com dúvidas no horizonte, pois os estímulos dados pelo Planalto à economia produziram um crescimento acima do esperado, portanto, inflacionário.
Para a atividade produtiva, juros mais altos significam consumo menor e fábricas ociosas. E esse cenário nada animador se reflete nas projeções de incremento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem, em média, de 0,5%. É nada para um país com as demandas sociais do Brasil. Os analistas dizem, porém, que esse é o preço a ser pago pelo descontrole da inflação, que, em 12 meses, chegou a encostar em 12%. Melhor dar um freio da economia agora do que permitir que as remarcações desenfreadas dos preços desestruturem por completo a indústria e o comércio. O país, ressalte-se, tem um péssimo histórico em relação à carestia.
Amanhã, também, será anunciada a decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. A perspectiva de uma subida mais forte nos juros na maior economia do planeta provocou estragos na semana que passou. Somente no Brasil, as empresas negociadas em Bolsa de Valores perderam mais de R$ 102 bilhões em valor de mercado. Trata-se de uma destruição de riqueza preocupante. A razão para isso é que os investidores preferem retirar parte do dinheiro aplicado em países emergentes, como o Brasil, onde as incertezas são grandes, e garantir a segurança dos títulos públicos norte-americanos. Os juros nos EUA devem aumentar 0,75 ponto, para um intervalo entre 2,25% e 2,50% ao ano.
Assim como o Brasil, os Estados Unidos sofrem com a inflação alta. A diferença é que há uma confiança maior entre os investidores de que o custo de vida cairá mais rápido na principal locomotiva do mundo do que no país cuja economia é comandada por Paulo Guedes. Sendo assim, é melhor manter os recursos por lá do que no mercado brasileiro. Trocando em miúdos, o Brasil precisa fazer um esforço redobrado para assegurar sua credibilidade. E isso implica juros sempre maiores do que na maior parte do planeta.
Confiança, sabe-se, não se constrói da noite para o dia. Que o próximo governo seja capaz de oferecer a previsibilidade que os donos do dinheiro exigem. O Brasil tem tudo para decolar, como se pode comprovar em um passado recente. Contudo, é necessário que as autoridades, independentemente da ideologia, estejam comprometidas com políticas econômicas consistentes, que, ao mesmo tempo, garantam o equilíbrio das contas públicas, mas permitam investimentos em infraestrutura e ações que reduzam o enorme fosso que separa ricos e pobres. Inclusão social é essencial.
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