opinião

Visão do Correio: votar em paz é direito de todos

A sociedade não pode permitir que um momento tão importante para o futuro da nação se transforme em repressão

Correio Braziliense
postado em 18/09/2022 06:00
 (crédito:   Alejandro Zambrana/Secom/TSE)
(crédito: Alejandro Zambrana/Secom/TSE)

O Brasil vai às urnas dentro de duas semanas, com a população exercendo o dever cívico de eleger seus representantes no Congresso Nacional e aqueles que vão governar o país, os estados e o Distrito Federal pelos próximos quatro anos. Nada mais democrático do que esse poder de escolha. Não é aceitável, portanto, que boa parte dos brasileiros esteja com medo de expressar suas opiniões publicamente e tema atos de violência no momento em que estiverem cumprindo o que manda a Constituição.

A sociedade não pode permitir que um momento tão importante para o futuro da nação se transforme em repressão, a ponto de um em cada 10 cidadãos admitir não comparecer aos locais de votação por acreditar que pode sofrer agressões físicas. É inaceitável.

Muito desse momento estarrecedor vivido pelo país tem a ver com as posições nada democráticas de candidatos que, em vez de apresentar propostas concretas para o Brasil, se dedicam a estimular ataques aos adversários e aos que não comungam de suas ideias.

O país precisa urgentemente de debates construtivos, que levem à construção de uma sociedade mais justa e tolerante. É isso que esperam os eleitores, em sua maioria. A vida real está aí para que todos vejam a dimensão dos desafios que estão colocados aos que forem os escolhidos para formular leis e gerir o dia a dia do país.

A educação, por exemplo, pede socorro. Dados divulgados na última sexta-feira apontam que o nível de aprendizado dos alunos de escolas públicas e privadas em todas as etapas do ensino básico recuou a 2013.

Na matemática, quase 40% dos alunos chegaram à quinta série, no ano passado, sem conseguirem identificar figuras geométricas como triângulo e círculo. O mesmo levantamento, divulgado pelo Ministério da Educação, revela que o percentual de crianças da segunda série que não sabem ler e escrever nem mesmo palavras isoladas mais que dobrou entre 2019 e 2021, de 15,5% para 33,8%.

A justificativa para esse desastre, que terá sérios reflexos na formação de cidadãos, foi a pandemia. Mas muitos dos problemas poderiam ser minimizados se os governantes tivessem cumprido o papel que lhes cabe no processo, o de proteger a população, sobretudo os mais vulneráveis, dando-lhes as condições necessárias para superar as adversidades.

O que se viu nesses últimos dois anos, no entanto, foi um jogo de empurra e de agressões, com pais e estudantes sem saberem muito o que fazer. No Ministério da Educação, que deveria ser o guia do processo de aprendizagem, imperou a ideologia e um ministro caiu por denúncias de corrupção.

Um país sem educação de qualidade torna-se terreno fértil para a manipulação política, o voto de cabresto, a disseminação de informações falsas, o surgimento de líderes populistas, a radicalização. Cidadãos com ensino deficiente viram presas fáceis daqueles que estão mais preocupados com o poder e não com o bem-estar social. O Brasil tem um histórico terrível nesse sentido e os resultados estão aí há séculos: um fosso enorme que separa ricos e pobres, fome, miséria, violência urbana. Não é aceitável que esse quadro prevaleça.

Que as próximas duas semanas sejam marcadas pela civilidade e pela apresentação, por parte dos candidatos, de projetos que possam levar o Brasil a superar suas mazelas. As eleições devem ser vistas como um momento de esperança, não de medo e violência. O país já viveu tempos terríveis, com ditaduras sangrentas e muita repressão. Desde que os tiranos foram varridos do mapa, registra o mais longo período democrático da história. Essa conquista deve ser preservada a todo custo. Que a paz e o bom senso prevaleçam.

 


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