A três semanas das eleições, o Brasil precisa de pacificação. Não é tolerável que divergências políticas, características de uma democracia saudável, resultem em tanta violência, a ponto de um defensor de um determinado candidato se sentir no direito de esfaquear, matar e tentar decapitar um desafeto simplesmente porque ele discordava de sua posição política. Trata-se de um crime de intolerância e ódio, por motivo torpe. O país não pode retroagir aos tempos da barbárie. Ou as autoridades e os candidatos se unem em torno de um movimento pela paz, ou o pior se concretizará.
A jovem democracia brasileira já foi testada diversas vezes, e, felizmente, sobreviveu a todas as intempéries. Contudo, nos últimos anos, o radicalismo ganhou corpo, incentivado por uma polarização extrema. Líderes que deveriam dar o exemplo passaram a incentivar o nós contra eles, o bem contra o mal, como se fossem comandantes de seitas fundamentalistas. Não é esse quadro de conflitos declarados que o Brasil quer e precisa. O que todos desejam é uma nação plural, em que a liberdade de escolha e de pensamento seja regra, não exceção.
Se a sociedade normalizar a violência política — há dois meses, um outro homem foi morto na festa de aniversário dele por um adversário —, os radicais se sentirão no direito de tirar a vida de quem quer que seja simplesmente porque não concordam com seu ponto de vista. Isso é barbárie. Muito da insegurança com a qual os brasileiros convivem hoje decorre justamente da aceitação de que roubar, matar, corromper, agredir, afrontar a Constituição fazem parte do dia a dia, não há o que questionar. Esse não é o comportamento típico de uma sociedade moderna e civilizada. Muito pelo contrário.
O Brasil tem problemas demais a enfrentar. Acrescentar a violência política a esse rol de desafios é insanidade. Esse mal deve ser extirpado o quanto antes, com ações enérgicas do poder Judiciário. Os candidatos que incentivarem crimes de ódio, intolerância, desrespeito a direitos básicos, como o de expressão, devem ser banidos do processo eleitoral enquanto é tempo. A omissão, neste momento, custará mais vidas. Quantas mais? Não é esse o país que os brasileiros se orgulham, no qual a rotina é de contar mortos, seja por qual motivo for.
Há muito o brasileiro deixou de ser visto como um povo pacífico. A vida passou a valer nada, sobretudo de mulheres, negros, gays, indígenas. Agora, essa lista terrível é acrescida por adversários políticos. Não se lutou tanto por uma sociedade mais justa para que tudo fosse jogado fora porque intolerantes, que não aceitam o contraditório, decidiram que são os responsáveis pelo destino de uma nação. É importante que um basta seja dado a esses radicais. Sãos eles que devem sair do jogo, pois não toleram a democracia, são misóginos, machistas, racistas, homofóbicos.
A Constituição brasileira estabelece direitos e deveres a todos. Então, que seja respeitada em sua plenitude. Eleições são fundamentais para o Estado de Direito. Alternância de poder revigora a democracia. Cercear posicionamentos políticos por meio da violência é um atentado aos princípios que regem a sociedade. Ainda há tempo para o Brasil recuperar a civilidade. Não há outro caminho que não seja o da paz. Quem não concorda com a posição do outro, que vá às urnas eletrônicas cravar democraticamente o seu voto. Esse, sim, é uma arma poderosa da qual ninguém pode abrir mão. Que o bom senso prevaleça. O Brasil merece.
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