CARLO BARBIERI - Analista político e economista
Estimativas econômicas recentes mostram que no curto prazo o Brasil deverá abastecer um terço da alimentação mundial. Essa verdade, associada a uma série de outros movimentos de desaceleração econômica nos Estados Unidos e Europa, farão o país ocupar uma posição mais confortável economicamente nos próximos anos em relação aos demais países. Vale lembrar que 85% da energia do Brasil já advém de fontes limpas e renováveis. Abre-se uma margem sem precedentes para que a diplomacia brasileira utilize esse protagonismo para ganhar espaço no mercado internacional.
A agroindústria brasileira hoje já alimenta cerca de 800 milhões de cidadãos do mundo e se prepara para aumentar mais 40% na produção, graças à tecnologia, conhecimento e investimentos. O resultado ganha ainda mais relevância se considerarmos que o país ainda não detém infraestrutura e logística rodoviária e ferroviária e portuárias adequadas para o escoamento e exportação das safras. Os números preveem a relevância do Brasil no contexto econômico mundial.
A inflação nos EUA, por exemplo, já superou a brasileira neste ano de 2022. De janeiro a julho, o IPCA do Brasil atingiu 4,77%, enquanto a americana foi a 5,31%. Para buscar remediar a situação, o presidente do FED — Banco Central americano — já anunciou aumento dos juros para os próximos meses.
O Brasil baixou a taxa de desemprego de mais de 14% no início do atual governo, para algo em torno de 9%, apesar de toda a pandemia, enquanto nos EUA o desemprego volta a crescer como mostraram os números recentes. Segue crescente superando 11 milhões de desempregados atualmente. Segundo a ADP foram criadas 132 mil vagas de trabalho no mercado americano em agosto. Esse total representa quase metade das ofertas de trabalho que foram criadas no Brasil, com carteira assinada, durante o mesmo período.
Enquanto isso, os EUA amargam um crescimento vertiginoso de saldos negativos nas contas públicas, o Brasil, em julho deste ano, registrou saldo positivo de R$ 19,3 bilhões. O Brasil deverá ter um crescimento econômico de 2% ou mais este ano. Algumas fontes já falam em 3,2%, enquanto o EUA já têm dois trimestres de crescimento negativo.
O comércio exterior brasileiro está batendo o seu recorde histórico, atingindo 39% do PIB, e fazendo com que o Brasil dobre sua relevância no comercio mundial, atingindo 2% do total, ainda baixíssimo, mas o dobro de poucos anos passados. Vale comparar com a China que em 2020 o comércio exterior tangenciou 33% do PIB. O saldo acumulado no Brasil deverá atingir U$ 1 trilhão.
A dívida pública brasileira está em queda, já baixando a 78% do PIB apesar da pandemia, enquanto a americana já superou $31 trilhões, atingindo quase 150% do PIB do país. A previsão de que a dívida brasileira chegaria aos 105% do PIB feita em 2020 se mostrou completamente errônea e irresponsável.
Se compararmos com a Europa a posição fica ainda melhor para o Brasil. Os experts previam uma Europa vibrante neste ano, superando a crise da covid-19, e atingindo um crescimento de mais de 4% em 2022. Infelizmente, esse cenário não se confirmou. Os números estão caindo e já se tem como afirmar que teremos um crescimento no máximo de 2,7%. A França só cresceu 0,5% no segundo trimestre e ficarão os franceses sem energia 2 horas por dia. A inflação segue crescente na Europa, atingindo 9,1%% este ano, números nunca antes vistos desde 1997.
Os juros europeus tendem a ser aumentados e o preço da energia também tem subido de forma escandalosa (41,9%). A Europa passará por um forte desabastecimento, alta inflação e vários países ainda não conseguiram voltar ao ritmo pré-pandemia. A gasolina, como os outros itens da energia, não tem como baixar a curto prazo, ao contrário do Brasil em que houve uma queda substancial baixando mais de 2,7% em uma semana, já tendo diminuído também em outros itens como a gasolina de aviação (mais de 15%) o que deve ajudar a deflação que já vem ocorrendo na economia.
Com a crise energética e principalmente a questão da segurança alimentar, o Brasil tem uma grande responsabilidade no futuro, quase presente, podendo em muito ajudar e, mais que tudo, utilizar-se dessa posição privilegiada para negociar acordos bilaterais de interesse do país. São cenas do próximo capítulo da história brasileira que poderemos contemplar no curto prazo.
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