O Brasil completa hoje 200 anos de sua independência de Portugal e a data histórica deve ser celebrada por todos os brasileiros e brasileiras. É preciso reconhecer que ao longo dessa história, com tropeços, retrocessos e avanços, nos construímos como nação multiétnica socialmente, com liberdades individuais, religiosas e econômicas. Somos um país gigante, de um povo fraterno e com solo rico e fértil. É preciso exaltar nossas virtudes como país pacífico, livre, soberano e economicamente sólido. Temos o maior parque industrial da América Latina, a maior produção agropecuária e fazemos comércio com todo o mundo. Temos ainda uma infraestrutura de rodovias, telecomunicações e energia elétrica que dão suporte a nosso desenvolvimento econômico e social.
Somos todos brasileiros, que falam a mesma língua, vivem no mesmo território e sob os princípios da democracia. Mas se é preciso celebrar, é também o momento de superar as diferenças e pensar o que queremos como nação para quando comemorarmos o 7 de Setembro, data que se tornou marco de um processo de libertação que estava em curso no país séculos atrás.
Passados os 200 anos e olhando para o futuro, é preciso perguntar o que a sociedade brasileira, soberana em suas decisões, vislumbra para o Brasil. Insistiremos em disputas políticas que nos dividem como povo ou buscaremos o caminho do consenso possível entre os divergentes para estabelecer as bases para alcançar o ponto ao qual almejamos chegar? Não é possível que ainda hoje milhões de cidadãos estejam em situação de fome, contingente que é multiplicado a quase metade das pessoas convivendo com insegurança alimentar. Conviver com um quadro de concentração de renda no qual 1% dos mais ricos tem renda 35 vezes maior do que os 50% mais pobres é condenar a nação a baixo crescimento econômico por décadas.
Ao mesmo tempo, nossa indústria perde participação na geração de riqueza e nossa produção extrativa mineral e agropecuária é exportada para gerar valor agregado no além fronteiras, enquanto importamos bens industrializados. Nossa eterna falta de rigor com as contas públicas nos condena à desconfiança dos investidores. A educação e a saúde, com o alto grau de concentração de renda, são sofisticadas para os mais ricos e extremamente precárias para os menos favorecidos economicamente. Esse é o Brasil do qual precisamos nos orgulhar, não com conformismo, antes com a capacidade de reconhecer nossos problemas para a partir deles desenhar nosso futuro em um mundo em profundas mudanças geopolíticas e tecnológicas e em transição energética.
Independente de Portugal, o Brasil buscou sua autonomia econômica no mundo com as exportações de café, base da economia, ao lado da pecuária, até os anos 1920. O minério de ferro consolidou o processo de industrialização brasileira, iniciado com as tecelagens e fundições. Hoje temos um parque industrial diversificado, mas que vem sofrendo com a baixa capacidade de investimento e de atrair investidores enfrentada pelo Brasil. Somos um país independente politicamente, mas sem autonomia econômica. A cada movimento de alta das commodities no comércio mundial, nossa economia cresce, mas a cada baixa enfrentamos uma crise. Isso porque nos tornamos exportadores de produtos básicos.
Ao celebrar o Bicentenário da Independência, é preciso que nos voltemos para uma realidade que pode mudar e nos colocar em risco como país desenvolvido num alerta feito nos anos 1920 pelo então presidente Arthur Bernardes de que "minério não dá duas safras". Tecnologias prolongam a vida útil das minas, mas não fazem delas fontes eternas de bens minerais. Mudanças climáticas extremas podem nos tirar a condição de celeiros do mundo. É hora de a festa cívica histórica se transformar em um marco de união dos brasileiros que desejam um Brasil não apenas independente, mas também autônomo economicamente e socialmente mais justo com todos os cidadãos. Há recursos e se torna necessário esforço para construir o Brasil dos próximos 200 anos.
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