O amor à pátria está acima de aspirações ideológicas ou de arroubos messiânicos. Está associado ao orgulho de vivermos em um país democrático, onde o sol da liberdade clareia um futuro de paz e de harmonia. Amar a pátria não significa sequestrar as cores de nossa bandeira. Está longe de pregar a divisão, o ódio, a polarização, o rancor, o tensionamento social. A paixão de ser brasileiro não deve se apegar a slogans baratos, que tentam impor a uma nação de 217,2 milhões de pessoas um modelo de moral cívico-religiosa.
Vivemos, graças a Deus, em uma democracia, não em uma teocracia. Não se pode dividir a nação entre aqueles que ostentam o estandarte verde-amarelo e os que carregam a bandeira vermelha — uma associação vexatória e preconceituosa de uma visão distorcida e deturpada do comunismo. Como se eleitores do Partido dos Trabalhadores fossem socialistas ou marxistas. Cada brasileiro tem o direito de seguir suas aspirações, mas também o dever de respeitar os anseios políticos do próximo.
Desde os anos 1980, nunca antes o tecido democrático esteve à beira de ser rasgado. O respeito às instituições e aos Três Poderes da República é condição sine qua non para uma sociedade saudável e para um país na rota do progresso e do desenvolvimento. Espero, de coração, que a civilidade e o humanismo reinem sobre a truculência e o medo no dia de hoje. A sombra do autoritarismo e da intolerância pairam sobre o berço esplêndido em que o Brasil se encontra deitado. No próximo 2/10, teremos a oportunidade de dar ao mundo uma demonstração de cidadania e de apreço pelo voto.
O Bicentenário da Independência é o momento de expressar o amor pela pátria, mas de forma absolutamente harmoniosa. Momento de festejar o Brasil sem se apegar a paixões políticas. Celebrar o Brasil, não os políticos. Esses passam, como em todo sistema democrático de alternância de poder, e o país fica. Caberá a nós construir o futuro de uma nação castigada pela pandemia, pela crise econômica e pela forte polarização.
Qualquer ato impensado no dia de hoje terá consequências que se refletirão pelos próximos meses, anos, talvez até por décadas. O verdadeiro amor pelo Brasil deve pressupor que a democracia é por demais frágil e precisa ser cuidada, acarinhada, valorizada como joia rara. Não ameaçada com armas, espezinhada, dilacerada pelo ódio. Amar a pátria não significa querer voltar a um passado onde o cassetete e o pau-de-arara silenciaram quem se opunha ao governo. É deprimente ver brasileiros defenderem o retorno da ditadura militar e reclamarem liberdade de expressão, como se não fossem coisas totalmente dissociadas. Se decidir ir às ruas hoje, espero que vá com o único objetivo e espírito de patriotismo. Sem segundas intenções nem a ira inflamada por quem apenas tem sede de poder.
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