FERNANDO ZANCAN - Presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM)
Quando se trata de energia, diversidade é sinônimo de segurança. Em qualquer lugar do mundo, vale o ditado: "Não ponha todos os ovos na mesma cesta". Nos últimos anos, tive a oportunidade de participar de discussões — com especialistas do Brasil, dos Estados Unidos (EUA) e da Alemanha — sobre qual solução mais adequada para reduzir as emissões das usinas a carvão: usar captura de CO² (a tecnologia Ccus, na sigla em inglês CCUS (Carbon, Capture, Utilisation and Storage) ou aumentar a eficiência das usinas. Sempre defendemos que as duas opções deveriam ser usadas.
Para substituir a energia produzida pelas usinas nucleares, a Alemanha iniciou, em 2008, a construção de 12 GW de usinas a carvão de alta eficiência. No mundo, temos hoje usinas a carvão com eficiência de 52% (China) e redução de 40% das emissões de CO² em comparação com as unidades instaladas na década de 1990. Além do carvão, a Alemanha orientou esforços para aumentar a importação de gás natural, tendo a Rússia como principal supridor, apesar de dispor de grandes reservas de carvão. E desenvolveu uma política agressiva de subsídios para fontes renováveis, como eólica e solar. O mesmo investimento, no entanto, não dedicou o país germânico para o desenvolvimento da Ccus.
Com fartas reservas de combustíveis fósseis, os Estados Unidos apostaram firme no amadurecimento das tecnologias de captura de carbono, adotando inclusive incentivos financeiros para viabilizar a solução. Quem sabe se a Europa, em especial a Alemanha, tivesse seguido esse caminho hoje estivesse mais próximo de resolver a equação de sua matriz energética, tanto para geração de energia elétrica (complementando as fontes renováveis), como para atendimento à indústria.
Com o conflito na Ucrânia, a Europa agora corre para substituir o gás importado da Rússia. Busca o hidrogênio verde, não fala do hidrogênio azul (fóssil com Ccus), continua estigmatizando os fósseis, recorre a falsa — devido à sua intermitência — segurança das fontes renováveis e segue dependente da polêmica e cara energia nuclear.
Produzido em mais de 70 países do mundo, o carvão é uma fonte segura. Não enfrenta problemas geopolíticos de suprimento e movimenta mais de um bilhão de toneladas anuais. Além disso, avançam no mundo as iniciativas para produção, a custo competitivo, do hidrogênio azul, combustível obtido a partir da gaseificação do carvão que está alinhado ao mundo de baixo carbono. Em fevereiro deste ano, o Japão recebeu o primeiro navio com hidrogênio produzido na Austrália a partir do carvão. Um grande passo para um país que já tem uma matriz energética diversificada.
As lições que nos mostram a história — o mundo já enfrentou outras transições energéticas —, o conflito na Ucrânia e a evolução tecnológica são a de que devemos perseguir a diversificação da matriz energética e o uso de tecnologias para reduzir as emissões. Usando todas as fontes de energia disponíveis, com a máxima eficiência e diminuído impacto ambiental, teremos mais segurança e menor preço.
A busca de qualquer transição energética que altere o balanço de oferta e demanda de forma abrupta causará ônus à população. No Brasil, as usinas a carvão que hoje operam — 1,7% da capacidade instalada — ajudam a preservar a água dos reservatórios durante períodos de menor volume de chuvas, e reduzem o custo da geração térmica, por serem o combustível fóssil mais barato. Além disso, o Brasil tem uma matriz energética invejável: quase metade da oferta de energia disponível (48%) no nosso país vem de fontes renováveis, contra 13,8% no mundo.
Portanto, não cabe ao Brasil falar em política energética copiando a Europa. Deve-se respeitar as especificidades de um país como o nosso que tem um consumo per capita de energia metade do que a Organização das Nações Unidas (ONU) estabelece para nações desenvolvidas; e nível de IDH ainda distante do desejado. Por outro lado, nossa emissão de CO² per capita no setor de energia é desejada pelos países ricos.
Está mais do que na hora de termos uma discussão pragmática e racional sobre política energética, sem importar discursos prontos e considerando todos os nossos recursos e a realidade socioeconômica. Com preço em moeda nacional, o carvão mineral não está sujeito a humores internacionais e pode ser usado com tecnologia ambientalmente sustentável, viabilizando inclusive a expansão de fontes renováveis, como a eólica e solar.
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