ORLANDO THOMÉ CORDEIRO - Consultor em estratégia
As eleições deste ano estão marcadas pela crise econômica e social, uma diferença importante em relação a 2018 quando a corrupção dominou os debates e foi determinante para a vitória do atual presidente. Temas como inflação, desemprego, fome, carestia estão no centro da preocupação da maioria do eleitorado.
Não à toa o governo federal, com o apoio do Centrão, tem adotado medidas de curto prazo para tentar minimizar seu desgaste. Auxílio Brasil no valor de R$ 600 até o final do ano, vale gás, auxílio caminhoneiro e taxista são as armas para tentar recuperar a popularidade e o apoio e disputar eleição em melhores condições. Afinal, pela primeira vez um incumbente disputa a reeleição em desvantagem, ocupando o segundo lugar em todas as pesquisas.
Essa foi a razão que levou o presidente a aceitar ser entrevistado na bancada do Jornal Nacional. Apesar da preocupação de seus assessores, ele teve um bom desempenho, demonstrando um inesperado controle emocional bem diferente do costumeiro comportamento explosivo e destemperado.
As atenções então se voltaram para a entrevista com o ex-presidente Lula, que viria a acontecer três dias depois. Na ocasião o que se viu foi uma reação quase unânime de que havia se saído muito bem, respondendo com segurança aos questionamentos e passando uma imagem de conhecedor da situação, apresentando dados sem precisar consultar anotações.
Diante de tal constatação, o presidente se sentiu na obrigação de participar do debate promovido por um pool de emissoras no domingo seguinte. Via ali a chance de enfrentar seu principal adversário frente a frente. E numa jogada já esperada, fez a primeira pergunta ao candidato petista sobre a corrupção nos governos de seu partido.
Para surpresa de muitos, na resposta Lula se mostrou acuado, sem a habitual verve, preferindo fugir da pergunta, em uma postura visivelmente desconfortável. Ali ficou claro que a tática presidencial de tentar reacender o tema corrupção, colando-o à imagem do ex-presidente, parecia ter dado certo.
Porém, ao longo do debate, a surpresa viria com o comportamento de Simone Tebet. Desde o início sua participação foi caracterizada por uma postura firme e contundente, confrontando o presidente. E ao ser atacada por ele, respondeu "eu não tenho medo de você e de seus ministros", frase que viralizou nas redes sociais.
A verdade é que o presidente não havia se preparado para ser confrontado pela senadora. Porém, seu pior momento foi quando atacou a jornalista Vera Magalhães, em uma atitude misógina que o acompanha em toda sua história de homem público. A partir daí o debate mudou de foco, com as duas senadoras candidatas passando a colocar no centro da discussão a questão da mulher. E foi quando Tebet fez uma pergunta matadora: "Por que tanta raiva das mulheres?", colocando o presidente numa saia justa.
Ao final do debate, o ex-presidente ainda tentou fazer uma tabelinha com ela ao perguntar sobre corrupção no governo Bolsonaro. Em sua resposta a senadora concordou, indicando as diversas evidências, mas fez questão de lembrar que nos governos petistas essa também foi uma característica marcante. Como se vê, o tema, aparentemente colocado em segundo plano, acabou dominando uma parte importante do debate.
Por isso, não se deve desprezar o potencial de reaquecimento do sentimento antipetista com a lembrança do Mensalão e Petrolão. De outro lado, tem crescido na população a percepção de que o governo Bolsonaro também tem a marca da corrupção. Será importante acompanhar o nível de desgaste a ser provocado pela série de reportagens publicadas pelo Uol sobre as transações imobiliárias do presidente e seus familiares. Nesta eleição, boa parte do eleitorado tem declarado sua intenção de voto em um dos dois para evitar a vitória do outro. E esse cenário ganha força porque ambos os candidatos líderes nas pesquisas têm índices de rejeição altíssimos.
O desempenho de Simone Tebet no debate animou seus apoiadores, mas mesmo que ela venha a apresentar um crescimento nas próximas pesquisas, a tendência predominante continua sendo a dificuldade de furar a bolha da atual polarização, principalmente se considerarmos que estamos a 30 dias do primeiro turno. De qualquer forma, ela já se tornou uma liderança relevante no âmbito nacional que precisará participar das negociações para evitar a vitória da autocracia no segundo turno. E isso é uma boa novidade.
Saiba Mais
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.