poluição

Artigo: Quando vamos cuidar do ar que respiramos?

Correio Braziliense
postado em 01/09/2022 06:00
 (crédito:  Marcelo Ferreira/CB)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB)

LEONARDO COZAC DE OLIVEIRA NETO - Engenheiro civil e de segurança do trabalho

Embora seja fundamental para a sobrevivência humana, o ar não tem recebido a devida atenção por boa parte da sociedade, que nem mesmo se importa com a qualidade daquilo que está respirando. Ainda que as pessoas tenham a plena consciência da existência da poluição do ar, elas, infelizmente, acabam não se atentando para a importância de tomar medidas efetivas para reverter o quadro.

Paralelamente, não existe, no nosso país, a adoção de alertas e recomendações de especialistas ou do setor público, de modo a propor uma discussão construtiva para uma sociedade com mais saúde e qualidade de vida. Para quem está principalmente nas grandes cidades, a bela cor avermelhada que surge nos céus a cada fim de tarde é reflexo direto do acúmulo de gases e de material particulado em excesso na atmosfera, causando o espalhamento dos raios solares no momento do pôr do sol.

Recente publicação da Organização Mundial da Saúde revela que quase toda a população global (99%) respira ar que excede os limites de qualidade estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde ( OMS), prejudicando grandemente a saúde. Para ter uma ideia, nós consumimos cerca de 10 mil litros de ar por dia.

Atualmente, mais de 6 mil cidades em 117 países monitoram a qualidade do ar, mas as pessoas que vivem nelas ainda respiram níveis insalubres de partículas finas e dióxido de nitrogênio. As pessoas de países de baixa e média renda sofrem as maiores exposições. Esse problema não é exclusivo das regiões urbanas. As áreas rurais também sofrem muito com a baixa qualidade do ar proveniente principalmente de queimadas e da agricultura, como ocorre durante processos de colheita de grãos.

Posto isso, o que nós, seres humanos, estamos fazendo para nos proteger da poluição do ar? Em primeiro lugar, o foco nas discussões ambientais e de saúde devem se ater à redução das principais fontes poluentes, como emissões veiculares e industriais. Portanto, devemos nos concentrar em eliminar a causa-raiz do problema. Porém, são medidas de médio e longo prazos. Afinal, mudar estilos de vida e matriz energética e reorganizar as cidades são processos que demoram anos ou décadas.

Sem vencer estas etapas, o efeito das recomendações oficiais, dadas por médicos epidemiologistas, ou pelas autoridades sanitárias, é mínimo para não dizer nulo. Conheço alguns profissionais que atuam, por exemplo, em agências ambientais, e sei que são pessoas sérias, mas fico imaginando por que há essa falta de uma orientação mais adequada.

Pesquisas científicas, com a participação do médico Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, mostraram que um inverno seco como o atual gera impactos na qualidade do ar e na saúde dos paulistanos que moram na região urbana da capital. É como se cada pessoa consumisse quatro cigarros diariamente, chegando a 250 unidades durante a estação mais fria do ano.

Para reverter esse quadro, não basta somente recomendar o plantio de árvores, nem que as pessoas bebam água, usem hidratante, umidifiquem o ar. São boas sugestões, mas isso evidencia a ausência de recomendações eficazes para nos proteger da poluição do ar.

Soluções simples como o uso de máscaras boas em dias muito poluídos, fechamento de janelas ou utilização de purificadores de ar residenciais. Para os motoristas, atenção para a substituição dos filtros de ar de cabine dos veículos. Uma boa barreira de proteção de material particulado. Ideias mais eficazes precisam começar a ser discutidas imediatamente, como a adoção de sistemas de ventilação com filtros de ar nas casas, igual aos que já existem em cozinhas ou em banheiros. Só que ao invés de retirar o ar do ambiente, uma ventilação deve trazer o ar de fora limpo. Algo simples, mas com grande utilidade em períodos de frio.

Decerto, a pandemia da covid-19 reforçou ainda mais ao mundo o alerta sobre os graves impactos gerados, à saúde das pessoas, por um patógeno transmitido pelo ar, invisível a olho nu. Mesmo assim, houve tímidas ações em busca da melhoria do ar de ambientes internos para o grande público. Há, evidentemente, uma movimentação interessante da indústria automobilística, lançando veículos, ainda tops de linha, com sistemas de filtração, purificação e monitoramento da qualidade do ar, que futuramente poderão chegar a um maior número de consumidores.

Enfim, por toda essa realidade, é essencial que médicos, ambientalistas, arquitetos, agentes públicos e outros profissionais envolvidos com a qualidade do ar, externo ou interno, pensem (e repensem) como o ar que o ser humano respira interage com cada uma de suas atividades diárias. E que, finalmente, encontrem caminhos propositivos, com ações eficazes, que promovam uma verdadeira proteção da saúde da população.

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