Foi uma ofensa às mulheres, à imprensa, à liberdade de expressão e ao Estado democrático de direito. O insulto de Jair Bolsonaro contra a jornalista Vera Magalhães escrachou a misoginia do ocupante do cargo mais alto do poder no Brasil. "Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro", vociferou um descontrolado presidente, durante o debate do último domingo, em uma demonstração de baixeza e de desprezo por todas as brasileiras. Demorou, mas Bolsonaro foi repreendido pelas duas mulheres adversárias.
A senadora Simone Tebet (MDB) deixou no ar uma pergunta que se sobreporia a qualquer resposta: "Por que tanta raiva de mulheres?". Soraya Tronicke (União Brasil) disparou: "Quando homens são tchutchucas com outros homens e com mulheres são tigrão, eu fico extremamente incomodada".
Bolsonaro deu um tiro no pé. Se precisava contar com o voto das brasileiras indecisas, para tentar encurtar a distância em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, provavelmente não o conseguirá. Em um país onde três mulheres são assassinadas por dia, vítimas do feminicídio, a declaração do chefe de Estado não é apenas bizarra, tosca e infeliz. É irresponsável. Alimenta o ódio. Inspira a misoginia. E, com toda a razão, afasta o voto feminino. Pesquisa do Ipec (antigo Ibope) mostra que apenas 29% das mulheres apoiariam a reeleição do presidente. Detalhe: a sondagem não abrangeu o debate do último domingo.
"Ninguém é mais arrogante em relação às mulheres, mais agressivo ou desdenhoso do que o homem que duvida de sua virilidade." A frase, da escritora e feminista francesa Simone de Beauvoir (1908-1986), poderia servir de arcabouço para a reflexão de machistas e misóginos. Um presidente da República deveria se pautar pelo exemplo, pelo respeito absoluto por cada cidadão e cidadã de seu país.
Além de insultar mulheres, Bolsonaro, uma vez mais, mostrou o desdém e o ódio para com jornalistas. Talvez por sermos nós, da imprensa, os responsáveis pela apuração e pela publicação de escândalos e malfeitos de governantes. Como a denúncia publicada ontem, pela jornalista Juliana Dal Piva, do Uol, de que metade do patrimônio do clã Bolsonaro foi comprada com dinheiro vivo — 51 dos 107 imóveis pertencentes a ex-mulheres, filhos, irmãos e mãe.
Ao demonstrar arrogância, petulância e ojeriza pelas mulheres e pela imprensa, Bolsonaro apenas escancara autoritarismo e agrada à própria claque, que prefere acreditar em "notícias" espalhadas a torto e a direito pelo WhatsApp do que no jornalismo comprometido com fatos. Minha solidariedade para com a colega Vera Magalhães e todo o meu respeito pelas mulheres brasileiras.