EDITORIAL

Visão do Correio: País dos espertalhões

Golpe do delivery, golpe do WhatsApp, da vacina, do Pix, do emprego, do sequestro, catfish (perfil falso) e tantos outros. Em comum, a maioria dos golpistas usa o que os especialistas chamam de "engenharia social", tática de manipulação psicológica que visa extrair informações confidenciais das pessoas ou convencê-las a executar determinada ação.

E isso piorou com a pandemia. De acordo com o cálculo dos bancos, a partir de dados coletados no primeiro semestre deste ano, a quantidade de golpes no sistema financeiro do Brasil deverá ultrapassar R$ 2,5 bilhões em prejuízos até o final de 2022. Desse valor, estima-se que cerca de R$ 1,8 bilhão sejam referentes a transações com Pix, método criado pelo Banco Central para que pessoas físicas e microempreendedores individuais (MEIs) realizem operações financeiras com isenção de taxas.

No primeiro semestre, foram 3 milhões de tentativas de fraude, tamanha a sagacidade dos espertalhões. O levantamento do "Mapa da Fraude", desenvolvido pela empresa ClearSale, especializada em prevenção e gerenciamento de risco, mostrou — de janeiro a junho deste ano — um crescimento de 9% no número de tentativas de golpe via e-commerce, se comparado ao mesmo período de 2021. Entre as categorias mais impactadas por tentativas de golpes estão os setores de eletrônicos (em geral), celulares e games.

O mercado financeiro liderou as tentativas — 527 mil de 19 milhões transações digitais, como abertura de contas, emissão de cartões, Pix, CDC e empréstimo pessoal. Em telecomunicações, foram analisadas 6,6 milhões de negociações, sendo 212 mil configuradas como tentativas de golpe. E, em terceiro lugar, o setor de vendas diretas, com 35 mil denúncias de 1,4 milhão de transações.

Nem mesmo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está imune às fraudes. No último sábado, o órgão divulgou um alerta contra golpes que vêm sendo aplicados utilizando o nome da instituição. Os golpistas estariam se passando por servidores da agência para oferecer vantagens e facilidades indevidas. Na maioria dos casos, os contatos foram feitos com empresas do setor de saúde que mantêm relações com a Anvisa.

Para aplicar o golpe, o fraudador liga para a empresa e, ao se identificar como servidor da agência reguladora, oferece "vantagens" e "celeridade" na análise de processos de registro de produtos, em troca de "pagamentos" repassados diretamente para a conta dos criminosos. Além de esclarecer que não faz contato direto com empresas, oferecendo vantagens, promessas de auxílio ou facilidades em qualquer tipo de processo, a Anvisa explica que a prática é ilegal e, portanto, configura estelionato.

Não é de se estranhar, portanto, a baixa adesão da população brasileira em receber os recenseadores em casa e responder ao Censo Demográfico 2022, mesmo o IBGE informando que os funcionários estão todos identificados e que não fazem nenhuma pergunta relativa a dados bancários ou algo similar.

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