As eleições de 2022 serão marcadas pelo protagonismo das mulheres. Num país machista e preconceituoso, como o Brasil, são elas que decidirão quem ocupará a Presidência da República nos próximos quatro anos. Não por acaso, todos os temas relacionados a elas, em especial a misoginia e a desigualdade de renda, estão dominando os debates. Aqueles que insistirem em tratar as demandas femininas como mimimi e optarem por um discurso violento certamente não contarão com o voto da maioria desse público.
Os números são eloquentes: as mulheres representam 53% do eleitorado, 40% delas dizem, segundo pesquisas, que ainda podem mudar de voto até o dia das eleições, 50% veem a economia como a principal preocupação no momento, por causa da inflação e boa parcela cita a saúde como demanda importante, sobretudo pelos efeitos da pandemia do novo coronavírus. Entre os eleitores com ensino superior completo, elas são 60,8%. No grupo que tem ensino universitário incompleto, representam 55,2%. Dos que concluíram o ensino médio, somam 56,1%.
As eleições mais recentes mostram que as mulheres adquiriram opinião própria, votam segundo os seus princípios e de acordo com o que acreditam. Não se guiam mais por pais e maridos. Como muitas têm ressaltado, política não é mais coisa de homem, ainda que elas estejam sub-representadas em todas as esferas de governo, quadro que tende a mudar mais rapidamente nos próximos anos. Aqueles que não se antenarem à nova realidade perderão o bonde da história. Foi-se o tempo que o voto feminino era artigo de segunda categoria.
Nesse contexto, a submissão virou coisa do passado. E o Brasil tem uma dívida enorme com as mulheres, cujo direito do voto só lhes foi concedido em 1932, ou seja, 108 anos depois de os homens exercerem esse ato de cidadania. A obrigatoriedade do voto feminino só foi instituída em 1965. Antes, voluntária, a escolha nas urnas muitas vezes era decidida pela família. Uma distorção característica de uma nação patriarcal, de caciques e coronéis políticos.
Com razão, as mulheres questionam por que ainda há tanta disparidade no mercado de trabalho, por que ainda ganham menos que os homens mesmo exercendo as mesmas funções. Chefes de família, elas indagam sobre os motivos de não terem creches à disposição de seus filhos para que possam trabalhar em paz e por que a inflação está tão alta a ponto de entes queridos passarem fome. Demonstram enorme sensibilidade ante a desestruturação das famílias, preocupadas com o futuro dos filhos e dos maridos desempregados. Também cobram medidas mais efetivas contra a violência doméstica, da qual são as principais vítimas. É isso que precisa ser levado em conta por aqueles que disputam a Presidência da República.
O direito de as mulheres se posicionarem abertamente, inclusive na política, não pode ser visto como algo pejorativo, como pregam alguns, que tentam desqualificá-las ao defini-las como feministas. Sim, são feministas e donas de suas vontades. Elas sabem o poder que têm e deixarão bem claro nas urnas o que pensam e o que repudiam. Conquistá-las vai muito além de promessas populistas e sem conteúdo.
Sendo assim, que nos pouco mais de 30 dias que faltam para as eleições, o voto feminino se mantenha na linha de frente das discussões por um Brasil melhor. Descompromisso com esse eleitorado será sinal de derrota certa. Acabou o tempo de achar que o cabresto se sobrepõe à liberdade da livre escolha. As mulheres estão aí para mostrar que o país pode mudar para melhor. Basta, apenas, ter a humildade para ouvir as demandas delas, sem soberba, instinto de superioridade e misoginia. Elas querem e merecem todo o respeito, independentemente da posição política que venham a tomar.