Mulheres tiveram destaque no primeiro debate entre presidenciáveis para as eleições deste ano. Não por motivos relacionados a políticas para o público feminino, como esperado para a ocasião, mas por ataques nada republicanos contra elas. Entre os alvos de um dos candidatos, uma jornalista que questionou ações do governo atual. O fato de as falas grosseiras partirem de alguém que tem aversão a esses profissionais e que nunca escondeu a postura misógina não surpreende. Nem por isso deve, no entanto, passar à margem de reprovações.
O candidato à reeleição demonstrou o típico despreparo para lidar com críticas à gestão dele, e a resposta dada entrou para a lista de declarações infames proferidas pelo político durante anos. Apesar de a situação reverberar entre os demais concorrentes, os planos de governo dos participantes para combater práticas transversais a comportamentos como esse acabaram sem o mesmo destaque.
Não foi a primeira vez e, provavelmente, não será a última situação em que o candidato terá esse tipo de atitude. Equipes de campanha dos adversários acreditam que ela teve potencial para prejudicá-lo entre a parcela do eleitorado ofendida de maneira indireta, as mulheres: justamente o público necessário a ser conquistado pelos interessados em se eleger. Contudo, os outros cinco postulantes falharam em ir além e apresentar soluções praticáveis para problemas que as afetam. Em especial, no que diz respeito à violência.
Enquanto se concentravam em ataques pessoais, dirigidos principalmente àqueles e àquelas que assumiram cargos eletivos em algum momento da carreira, os presidenciáveis não debateram de forma contundente como reduzir a quantidade de feminicídios no Brasil, por exemplo. A cada dia de 2021, em média, três mulheres foram mortas no país por motivo de gênero. Os acusados do crime eram companheiros e ex-companheiros em 81% dos 1.341 casos registrados; e as vítimas, majoritariamente negras (62%).
Além disso, no ano passado, 5.789 foram vítimas de tentativa de assassinato apenas pelo fato de serem mulheres. E mais: diariamente, 632 sofreram agressões físicas em ambiente doméstico. Os dados, do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022, referem-se a um assunto de competência do poder público. Por isso, o tema não deve ficar de lado nos projetos de gestão, associados a medidas nos campos educacional, econômico e social.
Infelizmente, incontáveis brasileiros pensam de forma semelhante aos postulantes que têm aversão a mulheres e estão de acordo com a ideia da permanência delas em papéis bastante específicos, na condição de subalternidade. Assim, a escolha de nomes com esse tipo de pensamento representará aquiescência à sustentação do machismo estrutural no país, além de desídia quanto à ruptura das amarras que conservam o Brasil em estado de atraso quando o assunto são políticas de gênero.