Ainda sob impacto da repercussão da entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Jornal Nacional, começa hoje o horário eleitoral. Diariamente, em dois blocos de 25 minutos de segunda a sábado, os candidatos vão se revezar no rádio e na televisão. Em primeiro lugar, é importante deixar claro que não tem nada de "gratuito". A renúncia fiscal estimada é de R$ 737 milhões às emissoras no Imposto de Renda.
Outro ponto é que a importância do horário eleitoral na definição do voto está cada vez mais em xeque. Criada em 1962, a propaganda obrigatória surgiu com a proposta de garantir espaço aos partidos políticos na programação das emissoras de rádio e televisão para divulgação das ideias — afinal, tratam-se de concessões estatais e contam com regulação específica durante o período eleitoral.
Com o passar dos anos, o tempo destinado ao horário eleitoral foi ficando cada vez mais curto. Durante a ditadura militar, por exemplo, chegou a ter duas horas e meia diariamente. Assisti pela primeira vez ainda na infância, quando o Distrito Federal passou a ter representação política no Congresso e o eleitores locais puderam eleger, em 1986, três senadores e oito deputados federais. Era uma outra época, com comitês eleitorais distribuídos pelas cidades e com intensa distribuição de santinhos nas ruas —cheguei, inclusive, a fazer uma coleção de porta-documentos com a foto e o número dos candidatos.
Desde então, presenciei momentos famosos no horário eleitoral, com jingles que marcaram época, denúncias bombásticas. Mas veio o avanço tecnológico e a reboque a forma de consumir informação mudou. É fato que as pessoas acompanham cada vez menos os canais abertos na televisão e a busca por notícia migrou para smartphones, tablets e afins. Assim, uma pergunta se faz necessária: qual a importância do horário eleitoral atualmente?
Hoje, considero que está em viés de baixa, mas não significa que não seja necessário. Mesmo com audiência cada vez menor, a propaganda obrigatória é a única forma de um candidato conseguir chamar a atenção do eleitorado. Nem que seja por escassos segundos. Trechos dos principais candidatos serão editados e vão circular pelos celulares, até mesmo no mais restrito grupo de família — sem contar que pode ser um vídeo deepfake, lembre-se.
Atualmente, a disputa se ganha nas ruas e nas redes, ainda mais em um ambiente cada vez mais digital como o nosso. Mas é sempre bom ficar de olho no horário eleitoral.