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Artigo: Flagelo desprezado

Um menino, de 11 anos, ligou para a Polícia Militar de Belo Horizonte em busca de socorro, mas a "ocorrência" foi atípica para a corporação. Ele pediu comida. Estava passando fome com a família. Depois de dias só com fubá e água em casa, a criança não se conteve ao ver a mãe chorar e apelou aos policiais.

Desempregada, vivendo de bicos, a mãe do garotinho e de mais cinco filhos contou que eles estavam sem comprar alimentos havia quase três semanas. Os militares se comoveram com a situação e levaram mantimentos para família. É tocante a imagem do menino abraçando um dos policiais em agradecimento.

Na Estrutural, uma mãe e sete filhos sobrevivem de doações. A mulher, também desempregada, relatou o drama em reportagem publicada pelo Correio na segunda-feira. "Para a gente que é mãe, o que pesa mais é coisa para criança, principalmente quando o filho da gente pede, e não tem. Para mim, é a mesma coisa de levar uma porrada", afirmou ela.

Na mesma cidade, uma catadora de recicláveis disse que, por problemas de saúde, tem dificuldade de recolher o material. A limitação física faz com que leve de dois a três meses para conseguir ganhar R$ 50. "Dependo de uma cestinha aqui, outra lá. Não sei nem quando fui ao mercado pela última vez", lamentou.

Esses são apenas alguns exemplos da grave crise em que está mergulhado o Brasil. O país voltou ao mapa da fome. Hoje, há mais de 33 milhões de famintos e 125 milhões que não fazem as três refeições diárias. Uma vergonha para nós como nação.

Mas, em meio ao flagelo, surgiu um "estudo" oficial que coloca em dúvida o aumento da fome no atual governo. O argumento é de que não houve elevação na quantidade de internações por desnutrição. Especialistas e instituições prontamente contestaram. Além de destacarem a superficialidade do documento, ressaltaram que nas internações por doenças decorrentes de desnutrição nem sempre é feita essa associação. Além disso, os impactos da privação de alimentos aparecem no médio e longo prazos, especialmente nas crianças.

Todas as pesquisas sobre o tema — essas, sim, feitas com metodologia e análise criteriosa de dados — atestam a extensão da calamidade. E a penúria que os levantamentos apresentam em números nós comprovamos cotidianamente: pessoas pedindo nas ruas, nos semáforos, de casa em casa. Mas no vale-tudo eleitoral tenta-se até mascarar o sofrimento de quem não tem comida no prato.

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