A população está mais otimista com o futuro da economia, como mostra pesquisa do Datafolha. Para 48% dos entrevistados, a situação do país melhorará nos próximos meses, e 58% acreditam que a situação financeira pessoal ficará mais positiva. Os dados captados pelo levantamento refletem, sobretudo, a queda dos preços dos combustíveis e o recuo do desemprego, ainda que a renda do trabalho esteja estagnada há meses.
É importante ressaltar, contudo, que o quadro mais favorável é observado, principalmente, na classe média, que se beneficia mais diretamente do barateamento da gasolina. Entre os mais pobres, a percepção de melhora da economia e da situação financeira está longe de ser realidade, pois a inflação dos alimentos continua afligindo. É constante a falta de comida na mesa de muitas famílias nesse grupo populacional.
Chama a atenção, ainda, o fato de que a sensação de melhora deve ser passageira, pois todos os indicadores apontam que a economia perderá força ao longo de 2023. Projeções do Banco Central sinalizam que, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país, crescerá 2% neste ano, terá avanço de minguado 0,4% no próximo. Ou seja, boa parte das intervenções feitas pelo governo na economia neste ano terá efeito limitado no tempo, devido ao caráter eleitoreiro delas.
O ideal seria que os candidatos que se apresentam para comandar o Brasil nos próximos quatro anos focassem o debate em propostas concretas para que a percepção de melhora nas condições de vida não tivesse prazo de validade. A pouco mais de 40 dias de os eleitores cravarem seus votos nas urnas, a discussão está centrada em questões religiosas e em ataques à democracia. Planos concretos para fazer o país crescer por um longo período, garantir mais empregos e salários melhores estão completamente à margem, por total falta de interesse.
A pandemia do novo coronavírus escancarou que, quando há vontade, é possível gerar resultados positivos. A partir do momento em que o governo decidiu enfrentar o problema e passou a vacinar a população, a covid-19 foi perdendo força e a economia reabrindo. Com todas as atividades produtivas a pleno vapor, o desemprego retornou aos níveis de 2015. Houve uma preocupação enorme com a guerra na Ucrânia, com a inflação disparando, mas seus impactos também começam a ser superados.
Resta, portanto, trazer de volta à serenidade política ao país, para que as estimativas pessimistas para o próximo ano não se concretizem. Se realmente os candidatos à Presidência da República estão pensando no bem maior para a população, que se empenhem para que o discurso a ser entoado até outubro não seja o da beligerância, mas carregados de propostas que engrandeçam o debate. O Brasil precisa de pessoas que pensem o futuro, não de imediatistas de olho apenas no poder, seja para benefício próprio, seja para proteger aliados.
O país pode, sim, crescer com inflação sob controle, sem estripulias ou armadilhas eleitoreiras. Os cidadãos estão sedentos disso, a ponto de alimentarem esperança com base em sinais que não passam mais de desejo do que realidade. Não custa lembrar que a economia brasileira avançou, em média, 0,3% ao ano na última década. O resultado está aí para todo mundo ver: a volta do Brasil ao mapa da fome. Felizmente, ainda há tempo de mudar esse quadro cruel. Basta vontade política.