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Artigo: Ipê, a alma florida de Brasília

Sou uma caçadora de ipês. Carrego no meu baú, povoado por referências bonitas da vida, as floradas dos ipês — primeiro, os rosas; depois, os amarelos, meu favoritos; seguidos dos brancos — que também já estão florescendo

Um imenso tapete amarelo está sob meus pés. Caminho por Brasília agradecida pelas belezas que esta cidade me proporciona. Os ipês amarelos deixam cair as flores em mais uma temporada daquelas de tirar o fôlego. A Brasília seca vai se despedindo do inverno e anunciando a primavera, proporcionando o pôr-do-sol mais lindo de todos e o espetáculo colorido dos ipês, essas árvores majestosas que deixam nosso olhar em festa.

Sou uma caçadora de ipês. Carrego no meu baú, povoado por referências bonitas da vida, as floradas dos ipês — primeiro, os rosas; depois, os amarelos, meu favoritos; seguidos dos brancos — que também já estão florescendo. Vou em busca das galerias de árvores, dos tapetes de folhas secas e pétalas delicadas. Por enquanto, sigo amarelando — e que bom que é assim.

Os ipês marcam mais do que uma estação, bem mais que uma temporada. São os retratos de uma natureza que nos lembra quem somos e como nos transformamos ao longo da vida. Flores que brotam, secam. Galhos que caem, outros que nascem. Árvores que se embelezam e depois se guardam para se mostrar de novo mais na frente, tão ou mais lindas que da última vez.

Ipês nos lembram ciclos. É assim com toda a natureza. Somos espelhos, afinal. E se há reflexo mais bonito, desconheço. Ando sim, por aí, caçando ipês. Procuro, mapeio, registro e guardo. Faço o mesmo a cada ano, com o único compromisso de proporcionar beleza a mim mesma e observar o movimento da natureza, pois ela é sábia e manda recados.

A natureza nos diz que não somos eternos, que seguimos nos transformando, perdendo camadas, guardando o que precisamos na memória e no corpo. Tal como as árvores do cerrado, nosso lindo bioma, reservamos nutrientes que nos abastecem para as temporadas de escassez.

Guardo as imagens e a convivência com os ipês para aqueles momentos em que há pouca beleza para ver. Basta revisitar meu álbum particular e lembrar que tudo passa, e, ainda assim, o bom e o belo ficam na nossa lembrança. Por enquanto, sigo amarelando e é o melhor que posso fazer por mim, com a consciência de que, em breve, o branco da paz irá me invadir e me conduzir até a primavera e além, seguindo o ciclo da mãe natureza.

 

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