ELEIÇÕES

Artigo: Síndrome de duas capitais

Sondagens e estatísticas eleitorais chegam para mostrar muito mais do que intenções de voto e perfis de candidatos. Nesta semana, por exemplo, pesquisa do Ipec revelou característica peculiar do eleitorado brasiliense

Agora que as campanhas começaram de fato, as sondagens e estatísticas eleitorais chegam para mostrar muito mais do que intenções de voto e perfis de candidatos. Na segunda-feira (15/8), por exemplo, o levantamento divulgado pelo instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec) revelou uma característica particular do Distrito Federal. Aparentemente, parte da população da capital da República está acometida pela síndrome de outra capital: a de Estocolmo, na Suécia.

O estado psicológico conhecido como síndrome de Estocolmo se caracteriza por uma espécie de empatia ou outro forte laço emocional desenvolvido pelas vítimas de criminosos em relação a esses mesmos algozes. O quadro pode se manifestar em virtude de um estresse extremo, vivido de modo repentino. Contudo, dado o fato de que as violências sofridas pelos brasilienses vieram em doses homeopáticas, mas sempre dia após dia, é possível que os afetados não se enxerguem nessa condição.

Após quase quatro anos de retrocessos em diversas frentes — como meio ambiente, ensino, ciência, relações exteriores, economia, cultura — e de agrados que chegaram a setores bastante específicos, como o Centrão e as Forças Armadas, uma parcela da população do Distrito Federal decidiu se fechar em uma bolha e ignorar sinais alarmantes desvelados por todo o Brasil. O motivo dessa conclusão? No DF, o candidato à Presidência responsável por deixar o país como tal poderia ganhar as eleições no primeiro turno, segundo o Ipec.

Talvez, os brasilienses que optaram por essa saída se considerem distantes demais da Floresta Amazônica para se preocuparem com a devastação do bioma — cuja área destruída em um ano superou o tamanho da grande São Paulo. Talvez, tenham se esquecido da ineficiência do governo federal no combate à pandemia e das centenas de milhares de vidas perdidas nesse caminho. Talvez, disponham de comida suficiente em casa para ignorar o fato de que o país voltou para o Mapa da Fome. Talvez, não tenham prestado atenção às inúmeras vezes em que o postulante à reeleição atentou contra a democracia. Talvez, não dependam de serviços básicos que deveriam ser garantia do Estado e, por isso, não perceberam o sucateamento deles. Ou, talvez, estejam despreocupados demais com o fortalecimento de políticas públicas por acreditarem que elas não lhes afetam.

Nada justificaria, porém, esse profundo estado letárgico, senão ignorância ou mau-caratismo. Há opções para 2 de outubro. Mas ainda faltam educação para a política — como defendido anteriormente neste espaço — e conscientização sobre a própria situação social. A ausência desses fatores leva a decisões como a exposta pela pesquisa. E, infelizmente, os efeitos de escolhas assim não se restringiriam às ilhas onde só esses brasilienses parecem viver, bem isoladas do Brasil real.

 

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