Se não é a inflação, é a pandemia. Se não é a alta da carne, é o desemprego batendo à porta. Se não é o preço da cesta básica, é o estresse do trânsito nas grandes e médias cidades. Se não é a fome de parte da população, é a varíola do macaco. É possível encostar a cabeça no travesseiro e simplesmente dormir?
Não é novidade que o brasileiro dorme muito mal há um tempo. Atualmente, são 73 milhões de pessoas com insônia, o que corresponde a um terço da população, de acordo com a Associação Brasileira do Sono (ABS). E a pandemia certamente contribuiu para piorar a situação. Um novo estudo divulgado pelos cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que 65,5% dos brasileiros relatam problemas relacionados ao sono.
Entre os mais afetados estão as mulheres — que correspondem a um terço dos casos —, registro que se repete ao longo dos anos, talvez por serem mais "responsáveis" e preocupadas com as adversidades da vida, dizem alguns especialistas.
Outro grupo que tem hábitos pouco saudáveis de sono são os adeptos das redes sociais, notívagos por natureza, que não se desgrudam de seus celulares nem mesmo na hora de dormir. Não se sabe se há alguma relação com a pandemia, mas é fato que o estudo mostrou um aumento de distúrbios de sono entre os jovens, contrariando o perfil dessa faixa etária, que geralmente costuma dedicar várias horas ao hábito.
A insônia lidera o ranking dos distúrbios do sono, mas há ainda transtornos como apneia, síndrome das pernas inquietas e narcolepsia (sonolência diurna em excesso).
O sono ruim do brasileiro também tem relação com outros fatores, como ansiedade (somos o país mais ansioso do mundo), depressão, ambiente com barulho, colchão de má qualidade, problemas financeiros e estilo de vida.
Na semana passada, noticiamos que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve liberar o medicamento considerado "o melhor remédio" para combater a insônia. Em análise no Brasil, ele foi aprovado em 2019 pela Food and Drugs Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos.
O lemborexant é apontado como o melhor em eficácia, tolerabilidade e aceitabilidade entre 36 medicamentos e deve chegar às prateleiras das farmácias do país em 2023, produzido pela farmacêutica japonesa Eisai.
A novidade é que ele age por uma via diferente no cérebro, com direcionamento mais seletivo, com melhores resultados contra a insônia. Embora seja uma esperança para os notívagos de plantão, é uma solução medicamentosa e, como qualquer remédio, tem efeitos colaterais, alguns adversos.
A verdade é que a maioria dos brasileiros não dá muita importância ao sono. Além disso, o número de pessoas com quadro de obesidade cresce a cada dia e, com ela, as apneias obstrutivas do sono e o ronco — transtornos que interferem diretamente na redução da expectativa de vida e no aumento de risco para desfechos metabólicos e cardiovasculares.
O fato é que o brasileiro precisa dormir. E isso passa, necessariamente por uma mudança no estilo de vida.