Os atos pela democracia realizados ontem em diversas capitais chamam a atenção por três fatores: o pluralismo, a indignação e o pacifismo, sem incidentes em nenhuma localidade. Em tempos de radicalismo político, com morte e confrontos registrados antes do início oficial da campanha eleitoral, é salutar defender o debate de ideias, sem qualquer tipo de violência.
Sou um defensor ferrenho da democracia. É, sem sombra de dúvidas, o melhor regime político existente entre os que conhecemos. É um espaço da liberdade, do diálogo, do respeito à diversidade, em que o poder de convencimento tem que ocorrer por meio das palavras, e não à base da força. Toda visão contrária é válida. Afinal, quantas vezes não mudamos de opinião por conta de uma conversa? Saber ouvir é uma arte.
Como disse aqui neste espaço há duas semanas, sou um dos signatários da Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!, organizada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) e que contou com o apoio oficial de diversos movimentos e entidades. Até a última parcial, mais de 1 milhão de brasileiros tinham aderido ao texto. É um número expressivo. Representa a união de diversos setores da sociedade civil organizada contra a escalada de ameaças produzidas pelo presidente Jair Bolsonaro e apoiadores às instituições democráticas.
Estamos a 51 dias da realização do primeiro turno das eleições. A partir de terça-feira, os candidatos vão poder pedir votos abertamente nas ruas. Tivemos ontem uma prévia do que vão se tornar as redes sociais até os brasileiros irem às urnas. Como não poderia deixar de ser, a Carta pela Democracia mobilizou as principais discussões no Twitter e Facebook em uma guerra enfadonha de narrativa. Em vez de se discutir o conteúdo, tenta-se desqualificar o mensageiro. Veremos algo parecido no 7 de Setembro.
No ato da USP, muitos relembraram fatos históricos, como o ocorrido no mesmo local em agosto de 1977 contra a ditadura militar ou o movimento das Diretas Já, em 1984. Considero como um ponto de inflexão na disputa eleitoral. Que seja a largada de uma campanha limpa, sem baixarias, marcada por ações propositivas. E o principal: sem violência, com total respeito à ordem jurídica vigente.