A primeira vez que me emocionei ouvindo Caetano Veloso foi em frente à televisão, na final do histórico Festival da Record de 1967, quando ele se classificou em quarto lugar com Alegria alegria. Emocionaria-me outras tantas vezes, mas ao assisti-lo em apresentações nos mais diversos palcos do país, guardei algumas na memória.
Uma delas foi o primeiro show, ao retornar ao Brasil, em 1972, após o exílio — determinado pela ditadura militar —, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, em que incluiu no repertório músicas do Transa, LP gravado em Londres, entre as quais You don´t know me.
Recordo-me também do tributo em que o tropicalista e Roberto Carlos prestaram a Tom Jobim, na celebração dos 50 anos da Bossa Nova. O espetáculo emocionou a todos que lotaram o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 25 de agosto de 2008. Estava lá, fazendo a cobertura para o Correio.
Lembro-me ainda de um recital de voz e violão, em 22 de abril de 2012, na Esplanada dos Ministérios, no encerramento da Bienal do Livro. Naquela noite, por mais de duas horas, Caetano revisitou vários momentos da carreira. Juntei minha voz à da plateia no coro em alguns dos clássicos interpretados por ele.
Domingo, outra vez em frente à tevê, eu voltei a me emocionar concentrado no especial comemorativo dos 80 anos desse artista fundamental para a cultura brasileira. Tendo a companhia em cena da irmã Maria Bethânia e dos filhos Moreno, Zeca e Tom Veloso, ele brindou os fãs com uma performance digna de sua importância e representatividade para a MPB.
Um dos pontos altos da live — com a presença de convidados — foi a escolha das canções que interpretou: Como 2 e 2, ouvida na abertura, a Luz de Tieta, no bis, em duo com Bethânia. Os filhos que, há quatro anos, saíram em turnê pelo país e exterior, deram-lhe o necessário suporte nos acompanhamentos e também brilharam em números solo. Deve-se realçar a homenagem do aniversariante aos outros icônicos companheiros de ofício que completaram 80 anos recentemente: Gilberto Gil, Milton Nascimento e Paulinho da Viola.
Impressionou igualmente o quanto Caetano, em plena maturidade, se mantém tão jovial. Destaque-se, por exemplo, o momento em que ele se juntou a Bethânia e Moreno na dança da chula, ritmo característico de Santo Amaro da Purificação — com direito a rebolado.
Chamou a atenção, antes de Caetano subir ao palco, parte de entrevista que concedeu a Iza, quando revelou que faz planos de voltar a morar em Salvador e de fazer shows semanais no Teatro Vila Velha. O local foi onde ele deu início à trajetória artística, em 1964, com o musical Nós por exemplo, ao lado de Gilberto Gol, Gal Costa, Maria Bethânia, Tom Zé e Alcivando Luz.