ANDRÉ GUSTAVO STUMPF - Jornalista (andregustavo10@terrta.com.br)
As entrevistas realizadas pelo Jornal Nacional, o noticiário de maior audiência na televisão brasileira, deram aos brasileiros a oportunidade de decidir em quem votar no primeiro turno para presidência da República. Os dois mais cotados, segundo as pesquisas de opinião, mostraram uma coincidência peculiar: nenhum deles apresentou nada parecido com programa de governo ou plano de metas. O único que se preocupou em revelar rumos de sua eventual administração foi Ciro Gomes. Mas ele constitui uma terceira força, longe de ameaçar os rivais, de acordo com os levantamentos realizados por institutos especializados. Simone Tebet é uma boa opção, que, no entanto, estaciona em 2% de apoio dos eleitores.
A dicotomia está colocada diante do eleitor brasileiro. Um está no poder há quase quatro anos, não cumpriu nada do que prometeu, ameaça dar golpe de Estado, agride os Poderes da República, ataca ministros do Supremo Tribunal Federal, abusa de palavrões e piadas de mau gosto. O outro nunca explicou o que ocorreu de fato diante das reiteradas denúncias de corrupção. Elas se verificaram verdadeiras no assalto continuado à Petrobras, que reduziu sua produção e se tornou uma das empresas mais endividadas do mundo. É difícil decidir entre os dois. Trata-se de uma espécie de escolha de Sofia na política brasileira.
O mundo mudou muito nos últimos tempos. A Argentina, que já foi país desenvolvido, hoje se debate numa crise recorrente. Experimenta inflação elevada. Não possui reservas em moeda forte, seu comércio exterior é deficitário, sua indústria estacionou no tempo e as políticas populistas tentam distribuir a riqueza que não existe mais. A crise política é apenas uma face do profundo desacerto dos números da economia do país vizinho. País que possui alto nível de escolaridade, detentor de cinco prêmios Nobel, não consegue sair do labirinto em que se colocou. Tudo começou com o peronismo e quando se colocou ao lado do nazismo na Segunda Guerra.
O Chile é a novidade nessa lista. Trata-se do país com a maior renda per capita da América do Sul (US$ 23.165), país organizado, economia arrumada, mas com a população profundamente machucada pela longa ditadura de Augusto Pinochet, que não hesitou em torturar, exilar e matar. A Constituinte tenta recosturar as forças políticas dentro da sociedade. Sem êxito aparente. O novo texto constitucional corre o risco de não ser aprovado pela população, que, entre outras novidades, extingue o Senado. O presidente de esquerda, Gabriel Boric, vive momento de baixa popularidade. O país mais organizado do continente navega na direção de vários impasses.
A Colômbia foi, tradicionalmente, um país muito próximo dos Estados Unidos. Sempre elegeu presidentes conservadores. Agora, foi para a esquerda com o ex-guerrilheiro na Presidência da República, Gustavo Petro. Ele colocou outro guerrilheiro no comando do seu organismo de informações. E renovou o comando do Exército que passou a ter como missão a tarefa proteger fronteiras, a integridade territorial e promover a paz. A tentativa é acabar com a guerra interna. Falta pacificar os grupos remanescentes da guerrilha que dividiu o país durante mais de seis décadas. Mas o país continuará a ser o maior produtor de cocaína do mundo.
A Venezuela não mudou nada nos últimos tempos. Bolsonaro tentou copiar seu modelo de conceder privilégios para militares que, em contrapartida, garantem a Nicolás Maduro tranquilo exercício do poder. A aliança militar costurada com a Rússia tende a enfrentar dificuldades, uma vez que, na Ucrânia, o antigo e invencível Exército Vermelho, demonstrou que não existe mais. E Cuba, que resiste ao embargo econômico norte-americano há mais de 60 anos, agora começa a caminhar no sentido de admitir capital estrangeiro em sua economia. A escassez generalizada falou mais alto. As últimas revoltas populares tiveram como resposta prisões em massa.
Esse é o cenário político e econômico nos vizinhos de continente. Novidades positivas são as descobertas de petróleo nas Guianas, numa área que, segundo os técnicos da Petrobras, pode alcançar até as costas do Amapá e se constituir segundo pré-sal. No mundo os desafios são pesados. A guerra da Ucrânia caminha para empobrecer a Rússia e colocar o país na órbita da China, o que terá por consequência aumentar o poder político de Pequim e alterar as relações entre as grandes potências. É isso que espera o próximo governante brasileiro, que, além de lidar com essas novidades, terá que encontrar meios e modos de recolocar o Brasil no caminho do crescimento econômico. O debate realizado pela Band, com a Folha, mostrou, no entanto, que há alguma chance para a terceira via. Mas planos, projetos ou metas, até agora, nada.
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