JORGE ANTUNES - Maestro, compositor, professor titular aposentado da UnB, membro da Academia Brasileira de Música
Em 10 de setembro de 2012, o ministro dos Serviços Financeiros do Japão, Tadahiro Matsushita, de 73 anos, foi encontrado enforcado em casa. O grande político japonês, filiado ao Partido Novo do Povo, suicidou-se dois dias depois de uma revista ter revelado uma relação extraconjugal que ele mantinha.
Em 25 de junho de 2021 o jornal britânico The Sun publicou uma foto de Matt Hancock, ministro da Saúde, beijando a amante Gina Coladangelo, conselheira do Departamento de Saúde e Assistência Social, com quem o político inglês estava tendo um caso extraconjugal. Envergonhado com o escândalo, o ministro se demitiu.
Em alguns países a descoberta e a revelação de relacionamentos extraconjugais de políticos e homens públicos sempre desencadeiam grandes escândalos nacionais. As consequências variam: ora resultam no fim da carreira política do machão, via renúncia ou demissão, ora resulta no fim da vida do mulherengo por suicídio.
No Brasil é bem diferente. Político com amante é motivo de orgulho para seu eleitorado. Nossa gente cultua machões mulherengos. Nosso povo adora Don Juans, cabras machos sedutores, machões pegadores. Assim, homens públicos casados que têm relações extraconjugais reveladas não se avexam não. Pelo contrário, pavoneiam-se orgulhosos, sabendo que conquistarão muitos novos admiradores.
Em 27 de julho de 2022, o ex-prefeito Marquinhos Trad, hoje candidato a governador de Mato Grosso do Sul, declarou ao Jornal Midiamax que cometeu adultério enquanto estava na Prefeitura de Campo Grande: "Eu errei, mas não cometi crime algum. Devo a Deus, à minha esposa e às minhas filhas. Eu reuni toda minha família e confessei". Segundo ele, após confessar a traição, foi perdoado pela esposa e pelas filhas.
Você, caro leitor, acha que Dom Pedro amava Leopoldina? Você sabe como Dom Pedro tratava a esposa, a imperatriz Leopoldina? Todos sabem que quem morava no coração de Dom Pedro era a amante, Domitila, a Marquesa de Santos. Pois o coração de Pedro, onde dormita aquela mulher que, segundo seus contemporâneos, era feia de doer, está vindo aí. Então, a dita-cuja deve estar vindo junto, para nos lembrar que é muito estranho o fato de que nenhum deputado brasileiro até hoje apresentou projeto para criar o Dia da Amante.
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro acaba de anunciar a futura montagem da ópera Domitila, do meu querido amigo, o grande compositor João Guilherme Ripper, diretor da Sala Cecilia Meireles. Mas minha ópera Leopoldina continua na gaveta. Ou seja, no Bicentenário da Independência, o Theatro Municipal programa a ópera que exalta a amante de Dom Pedro, Domitila, mas não vai programar a ópera Leopoldina. A História, de há muito, vem sendo escrita pelos vencedores homens. No Brasil o machismo vigora há séculos. Assim, o protagonismo histórico das grandes líderes e lutadoras é sempre apagado e esquecido.
O apagão histórico machista, aplicado sobre nossas heroínas, ainda hoje vigora. Um dos colunistas do Correio Braziliense escreveu recentemente: "Em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro estava em viagem a São Paulo e, no trajeto Santos-São Paulo, próximo ao riacho do Ipiranga, recebeu uma carta assinada por sua esposa e por José Bonifácio, seu conselheiro pessoal, com as novas ordens enviadas por Portugal. D. Pedro aproveitou a situação para declarar a independência".
É triste vermos ainda hoje, na imprensa, distorções históricas machistas como essa. Foi Leopoldina que, no dia 2 de setembro de 1822, assinou o decreto que declarou o Brasil independente de Portugal. Dom Pedro estava em São Paulo. Cinco dias depois, no dia 7, ele recebeu a carta de Leopoldina comunicando o decreto e ele, então, faturou o feito com o famoso brado, às margens do Ipiranga. Entendo ser importante e urgente revermos o processo da Independência do Brasil e outros fatos nacionais, para que sejam dadas à luz da história, trazidas ao conhecimento coletivo, os grandes feitos femininos, os nomes de nossas grandes heroínas e lutadoras.
Domitila, que habitava o coração que foi trazido da cidade do Porto rumo ao Itamaraty, passou a viver, a partir de 4 de abril de 1825, no Palácio de São Cristóvão, nomeada por Dom Pedro como dama de honra de sua esposa Leopoldina. Era a humilhação cruel da imperatriz. Esta, 20 meses depois, em 11 de dezembro de 1826, abortou seu nono bebê e morreu aos 29 anos de idade.
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