ALDO PAVIANI - Geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília
Brasília enfrenta um período de secura que ultrapassa os 90 dias. Por isso, as pessoas estão submetidas a certos problemas como, poeira na atmosfera, pele ressecada e sangramento do nariz, entre outros inconvenientes. Alguns setores da cidade não encontram água em córregos e riachos, pois secaram completamente. Não é de todo estranho que isso aconteça no segundo semestre de cada ano. Todavia, o que está ocorrendo é bastante ocasional, bastando olhar para o firmamento totalmente sem nuvens — o que o dito popular classifica como céu de brigadeiro.
Todavia, percebe-se tempo de mudança, com nuvens que parecem anunciar precipitações para breve. Nesse caso, só o Instituto Nacional de Meteorologia (Inemet) poderá prever, monitorando com seu eficiente aparato técnico as condições meteorológicas para vislumbrar a mudança do tempo. Nada indica a quebra da seca de mais de três meses, pois o céu nublado vai cedendo à abertura para o ensolarado espaço da capital. Agora é esperar que, no alto da atmosfera, aconteçam movimentos da massa úmida vindo da Amazônia e que encontrem os ventos frios vindos do sul para que se formem os elementos necessários para que chova três dias sem parar como refere o poeta em sua canção. A frente fria chegou do sul e a temperatura teve leve abaixamento, mas o tempo não muda.
No Distrito Federal, se consomem milhões de litros de água todos os dias em atividades econômicas (no comércio e na indústria incipiente) e pela população. O consumo humano é necessário, mas há uso questionável do precioso líquido em que a água potável é desperdiçada como ao aguar ruas empoeiradas, calçadas ou regar jardins. Com a dificuldade em captar água, essas práticas deverão ser proibidas. Enquanto isso, a Caesb deverá monitorar os que empregam o uso da água nesses usos e aumentar a tarifa para que isso seja coibido. Será crucial tomar medidas para poupar água ou ela terá que ser buscada em rios distantes como acontece em algumas capitais, no Rio de Janeiro com a adutora do rio Guandu, por exemplo.
Outras cidades buscam água em rios próximos como Manaus, Porto Alegre e Belo Horizonte. Todavia, se essas localidades têm indústrias, há águas servidas, que poluem os rios e necessitam de tratamento primário que as tornem próprias ao consumo humano ou para as indústrias de alimentos. Na capital federal, em que a Companhia de Saneamento de Brasília (Caesb) tem oferecido água de excelente qualidade, é necessário filtrar o que for destinado ao consumo das pessoas, pois houve época em que a companhia captava água no poluído lago Paranoá.
Conhecer o tema é necessário. Por isso, desde a escola fundamental, as crianças devem conhecer a atividade dos laboratórios das companhias para que o acesso a água apropriada aos diversos tipos de consumo humano a que ela se destina. Essas crianças cresceriam tendo conhecimento e dando crédito ao que se passa nos centros de tratamento para que a água jorre nas torneiras em condições saudáveis para aproveitamento das pessoas. A ida aos centros de tratamento das companhias de água e saneamento poderia ser feita pelas crianças e jovens das escolas ao menos uma vez por ano, pois poucos conhecem todo o processo envolvido para que todos tenham água potável em condições de acesso. Igualmente, devem conhecer como se trata a água servida para que seja devolvida aos rios com a menor possibilidade de poluir o ambiente.
Aliás, o tratamento do esgoto é outro capítulo importante no trabalho das companhias de água e esgoto. Elas usam equipamento técnico para decantar elementos físicos geralmente oferecidos como adubo orgânico-mineral acessível aos que os desejarem a preços módicos. Essa é uma atividade secundária das empresas, mas que se revelam importante no ciclo de aproveitamento na agricultura das toneladas de dejetos produzidos nos centros urbanos. Embora secundário, o comércio de adubo segue no rol das receitas e orçamentos das empresas de saneamento em todos os estados brasileiros.
Tudo o que é feito para uso da água e resíduos deveria ser de conhecimento da população urbana para a valorização no uso cotidiano. Com isso, os altos custos para que ela siga para os domicílios em perfeitas condições fariam com que a população a economizasse e evitasse o desperdício na limpeza de calçadas e ruas ou mesmo na rega de plantas em jardins todos os dias. Os legisladores deveriam se munir de argumentos para propor aos executivos projetos de leis para a preservação de mananciais e da vegetação. O verde possibilita a recarga dos lençóis freáticos importantes em todo o ciclo das águas e ninguém deve desconhecer esses aspectos na vida das pessoas. Água para todos será seguramente democracia hídrica.
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