EDITORIAL

Visão do Correio: Desafios pela vida nas estradas do país

Correio Braziliense
postado em 25/08/2022 06:00

Apesar de os dados indicarem que dirigir um veículo após ingerir bebida alcoólica é uma combinação perversa, causa de muitos acidentes, ferimentos, mortes e insegurança nas estradas, há condutores que ignoram a recomendação e o que determina a legislação de trânsito. A Lei Seca completou 14 anos em junho último. Ao longo desses anos, as autoridades têm agido para retirar das vias quem desobedece a norma legal, a fim de evitar as tragédias nas estradas que cortam o país.

Nos primeiros cinco meses deste ano, 7.477 condutores foram autuados pela Polícia Rodoviária Federal por dirigir sob efeito de álcool ou drogas — o que equivale a um flagrante a cada uma hora. Outros 19.093 se recusaram a fazer o teste do bafômetro. Os dados oficiais revelam que houve um aumento de 2.308% no número de pessoas bêbadas ao volante, nas rodovias federais. Nesse período, foram aplicados 1,23 milhão de testes de alcoolemia em motoristas em trânsito nas rodovias federais — 23 vezes mais do que os realizados no mesmo período de 2021, quando ocorreram 48.649 testagens.

Embora não seja o fator mais relevante das tragédias ocorridas nas estradas, os especialistas advertem que a alcoolemia, ou a drogadição, potencializa as possibilidades de acidentes graves. No ano passado, pelo menos 52 pessoas foram vítimas de motoristas embriagados ou usuários de drogas. Em todo o país, 52.762 brasileiros foram a óbito nos acidentes registrados no Brasil.

A maioria das tragédias teve como causas a ineficiência do condutor (5.730 ocorrências), o desrespeito à velocidade máxima da via (5.585), a imprudência ao acessar a estrada sem observar a presença de outros veículos (4.644), além de procedimentos incompatíveis com as regras de trânsito.

A situação se repete nas estradas federais que cortam as unidades da Federação. Minas Gerais foi o estado com o maior número de acidentes com mortes no ano passado (7.077), seguido por Santa Catarina (6.611) e Paraná (5.794). No Distrito Federal, foram 779 ocorrências. O Amazonas registrou o menor número de ocorrências com vítimas: 71.

Além das perdas de vidas — efeito irreparável —, os acidentes têm um custo elevado para toda a sociedade. De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), o gasto total com os acidentes somou R$ 12,19 bilhões em 2021, sendo R$ 4,7 bilhões os com mortes; R$ 7 bilhões os com vítimas; e R$ 417,3 milhões, os sem vítimas.

Na entendimento dos especialistas, a crise sanitária da covid-19, que impôs restrições às atividades corriqueiras dos brasileiros, como o isolamento social, contribuiu para o aumento dos acidentes de trânsito no ano passado, quando a pandemia arrefeceu e a flexibilização gradual permitiu o retorno às atividades cotidianas. Os desequilíbrios na saúde mental e emocional teriam contribuído para o aumento de ocorrências na comparação com 2020 (1,7% inferior) a 2021.

No entanto, independentemente dos fatores psicológicos, há necessidade de reeducação dos condutores e, possivelmente, a revisão de algumas regras, para que o Brasil consiga atingir a meta da Década de Ação pela Segurança no Trânsito, instituída pela Organização das Nações Unidas, que é a redução de 50%, até 2030, do número de mortos em acidentes nas rodovias federais ou estaduais. Esta não será uma conquista do Brasil ou dos países que compõem a ONU, mas de toda a sociedade em defesa da vida.

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