ELEIÇÕES 2022

Artigo — Economia e política: análise do cenário eleitoral no Brasil

Correio Braziliense
postado em 24/08/2022 06:00
 (crédito: Antonio Augusto/secom/TSE)
(crédito: Antonio Augusto/secom/TSE)

JOSÉ MATIAS-PEREIRA - Economista, advogado, doutor em ciência política pela Universidade Complutense de Madrid e pós-doutor em administração, é professor pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade de Brasília

A corrida eleitoral para a eleição presidencial no Brasil entrou na sua fase decisiva no dia 16 último, com o início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e televisão. No dia 2 de outubro uma grande parcela dos mais de 156 milhões de eleitores aptos a votar estarão diante das urnas para escolher o presidente que vai governar o país no período de 2023-2026. Caso ocorra um eventual segundo turno, a escolha será decidida pelos eleitores no dia 30 de outubro de 2022.

Nesta eleição, que conta com candidatos à presidente de vários partidos políticos, o país terá pela primeira vez uma disputa na qual estarão presentes um presidente em exercício e um ex-presidente. Trata-se de um embate entre dois candidatos com visões distintas na forma de governar: o presidente Bolsonaro se encontra num espectro político à direita, e o ex-presidente Lula à esquerda. Considerando que ambos ocuparam o mesmo cargo, é previsível que os embates vão se concentrar nas comparações de desempenho econômico — redução da taxa de desemprego, queda na inflação e crescimento do produto interno bruto (PIB) —, estabilidade política, fortalecimento das instituições, democracia e corrupção.

No plano externo, o debate estará centrado na crise provocada pela pandemia de covid-19, que continua impactando, de forma desigual, as economias da maioria dos países. A revisão das projeções feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI, jul. 2022), indica que o crescimento mundial deverá cair de 3,6% para 3,2% em 2022, em decorrência da piora no cenário internacional, notadamente pela inflação mais elevada em todo o mundo, desaceleração do crescimento da China e repercussões negativas da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Para o FMI o mundo poderá em breve estar à beira de uma recessão global.

No referido relatório do FMI, o Brasil aparece na contramão do mundo, visto que a taxa de crescimento do PIB estimada do país no corrente ano foi aumentada de 0,8% para 1,7%. Por sua vez, o mercado projeta um crescimento do PIB de 2% e a inflação deverá fechar o ano próximo de 6,5%. Registre-se que, a taxa de desemprego no Brasil recuou para 9,3% no segundo trimestre de 2022 (IBGE). É o menor patamar para o período desde 2015.

Constata-se, com base nos dados do IBGE no período de 1998 a 2018, que governos que tiveram índices de inflação e desemprego abaixo de dois dígitos conseguiram se reeleger ou fazer seu sucessor. Esse foi o caso da reeleição de Fernando Henrique Cardoso (FHC) em 1998 encerrou o seu primeiro mandato com o IPCA em 1,6%, e a taxa de desemprego em 7,8%. Apesar de entregar um baixo crescimento do PIB em 1998 de 0,10%, FHC capitalizou eleitoralmente a seu favor o fato de controlar a inflação (Plano Real). Registre-se que, no final do seu segundo mandato, em 2002 a inflação alcançou 12,5% e o desemprego 11,7%. Naquele ano FHC não conseguiu eleger o seu candidato, José Serra.

Constata-se que o cenário de desfavorável na economia no final do segundo governo FHC foi decisivo para a eleição de Lula em 2002. Lula, que foi reeleito em 2006, concluiu o primeiro mandato com o IPCA em 3,1% e o desemprego de 8,4%. No final do seu segundo governo, em 2010, o IPCA alcançou 5,9% e o desemprego de 6,7%, o que viabilizou a eleição de sua candidata, Dilma Rousseff.

Em 2014 Dilma terminou o seu governo com o IPCA 6,4% e com o desemprego em 4,3%. Foi reeleita, mas não conseguiu concluir o mandato. A pior recessão econômica vivenciada pelo Brasil no biênio 2015-2016, que resultou numa queda de 3,8% do PIB em 2015, e de 3,6% em 2016, refletiu no aumento da instabilidade política no país, o que contribuiu para o seu afastamento da presidência da República (impeachment) no final de agosto de 2016. Em 2018, o presidente Michel Temer, mesmo tendo a inflação sob controle (3,7%), apresentava uma taxa de desemprego elevado (11,7%), agravado por um ambiente político bastante instável. Seu candidato, Meirelles, perdeu. Nesse ambiente de turbulência política e econômica foi eleito o atual presidente, Jair Bolsonaro.

O tema corrupção também não pode ser desconsiderado nessa eleição presidencial. Os adversários do ex-presidente Lula sabem que reavivar na memória dos eleitores os custos dos escândalos revelados nos julgamentos do Mensalão e da Lava-Jato tenderá a contribuir para a elevação do percentual de sua rejeição, em particular, junto aos eleitores indecisos.

Verifica-se que o crescimento econômico e a estabilidade política estão interligados em vários níveis. Conforme evidencia a análise dos indicadores econômicos no período de 1998 a 2018, a queda da inflação e do desemprego, aos quais se pode agregar os efeitos benéficos na economia dos programas de transferências de renda para as populações mais pobres, são variáveis relevantes na corrida eleitoral, pois contribuem para a geração de uma sensação de bem-estar na população, que fica mais otimista com o futuro do país e sua situação financeira. Pode-se afirmar, assim, apoiado na estreita relação que existe entre economia e política, que o desempenho da economia será fator decisivo para a escolha do presidente da República nas eleições de 2 de outubro próximo.

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