EDITORIAL

Visão do Correio: Os jovens e o mercado de trabalho

Correio Braziliense
postado em 19/08/2022 06:00

A duras penas, o mercado de trabalho para jovens parece começar a dar sinais de uma caminhada ascendente. Pesquisa divulgada este mês pelo Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), em parceria com a consultoria Tendências, mostra crescimento de 18,2% no número de estagiários no primeiro trimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2021.

O crescimento do número de jovens estudando e trabalhando nos últimos meses tem relação com o retorno às atividades presenciais, após dois anos de medidas restritivas em decorrência da pandemia da covid-19, aliado à retomada econômica.

Atualmente, o Brasil tem 726,6 mil estagiários, contra 707,9 mil no ano anterior. A Região Sudeste lidera o ranking, com 298,5 mil estudantes em programas de estágio, dos quais São Paulo tem 136,8 mil inscritos, seguido por Minas Gerais, com 78,5 mil, e Rio de Janeiro, com 63 mil. A Região Nordeste vem em sequência, com 156.202 vagas ocupadas.

O levantamento tomou como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para contabilizar os dados, foram considerados estagiários trabalhadores que também estudam, sem carteira assinada, com mais de 16 anos, com contratos inferiores a dois anos, trabalhando até seis horas por dia em ocupações pré-determinadas.

Em 2021, a área que mais empregou estagiários foi a jurídica — 56,7 mil — seguida por vagas nos ensinos infantil e fundamental (55,6 mil). Na administração pública estadual, foram 46,4 mil contratos e na rede pública municipal, 45,5 mil. Já a educação superior teve 35,6 mil estagiários.

É fato que foi-se o tempo em que estagiários entravam e saíam do programa sem qualificação para o mercado de trabalho, alguns deles servindo cafezinho para executivos ou resolvendo questões particulares para seus chefes diretos.

Porém, há dados que mostram que a ocupação das vagas ainda reflete as disparidades sociais. Funções melhor remuneradas, geralmente em multinacionais ou empresas de grande porte, são destinadas a estudantes que tiveram formação em escolas de ponta.

E isso também se reflete no perfil dos estagiários. Pouco mais de 40% são das classes D e E, residentes em lares com renda domiciliar mensal de até R$ 3 mil. Com renda domiciliar mensal entre R$ 7,2 mil e R$ 22,5 mil, 17,9% são da classe B e apenas 4% acima desse patamar são da classe A.

Especialistas do Ciee, inclusive, destacam que muitos desses jovens repetem uma tendência histórica: buscam oportunidade de estágio não somente como fonte de inserção no mundo do trabalho, conhecimento ou experiência prática, mas também porque precisam colaborar na renda familiar, que geralmente não é muito alta.

A boa notícia é que, segundo o levantamento feito pela consultoria, há uma previsão de alta de 13,3% no número de estagiários até o fim deste ano, e para 2023, a expectativa é de que a projeção se mantenha, em menor ritmo, mas em ampliação — acima de 8%. O esperado é que a partir de 2024 seja registrado aumento real do número de vagas. Que venha 2024.

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