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Artigo: Safra brasileira responde à maior prioridade do mundo

Correio Braziliense
postado em 10/08/2022 06:00
 (crédito: Caio Gomez)
(crédito: Caio Gomez)

JOÃO GUILHERME SABINO OMETTO - Engenheiro, empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA)

No presente cenário global de inflação das commodities e alimentos, a agropecuária brasileira, vencendo intempéries, dificuldade de crédito, juros altos e majoração de insumos provocada pela invasão da Rússia à Ucrânia, dá uma resposta ao mundo: a produção de grãos no ciclo 2021/2022, com 272,5 milhões de toneladas, será a maior de toda a série histórica, conforme dados do 10º levantamento da nova safra, datado de 7 julho, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Observa-se crescimento de 6,7% ou 17 milhões de toneladas em relação à temporada anterior.

O desempenho do setor rural brasileiro tem significado ainda mais relevante se levarmos em conta o relatório World Population Prospects 2022 (Perspectivas da População Mundial), que acaba de ser divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o documento, em novembro próximo, o número de terráqueos chegará a 8 bilhões e a Índia deverá superar a China como o país mais populoso. Em 2030, o planeta terá 8,5 bilhões de habitantes e, em 2050, 9,7 bilhões.

O problema é que, em meio à expansão demográfica, cresce, desproporcionalmente, a miséria, como demonstra estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), também apresentado em julho. As crescentes taxas de inflação provocaram aumento de 71 milhões de indivíduos pobres nas nações em desenvolvimento, em apenas três meses, desde março de 2022. Como muito bem ressalta nosso ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues: "Segurança alimentar é a única garantia de paz universal".

O relatório alerta que esses países, com reservas fiscais esgotadas e altos níveis de dívida pública, bem como taxas de juros ascendentes nos mercados financeiros, enfrentam desafios que merecem total atenção de seus governantes e da comunidade global. Cabe citar a informação do Banco Mundial de que a pandemia, sozinha, levou a dívida das nações em desenvolvimento à maior alta em 50 anos, o equivalente a mais de duas vezes e meia suas receitas.

A análise do Pnud abrange 159 economias e indica que as altas de preço de commodities-chave têm impactos imediatos e devastadores nas famílias mais pobres, com pontos críticos mais evidentes nos Balcãs, países da região do Mar Cáspio e África Subsaariana. No Brasil, estatísticas recentes também indicam o aumento da miséria e de famílias submetidas à insegurança alimentar.

É preocupante o fato de o nefasto fluxo de empobrecimento ocorrer numa velocidade sem precedentes, maior até mesmo do que se observou no pico da pandemia. Embora atenuadas pela vacinação, ainda vivenciamos as duras consequências da covid-19. Como se não bastasse, é imenso o impacto da guerra no Leste da Europa, a maior causa, neste momento, da majoração global de insumos, alimentos e commodities, conforme reitera o estudo do organismo da ONU.

Nesse cenário, a safra recorde brasileira pode contribuir para um equilíbrio maior de preços no mercado interno e para atenuar um pouco as pressões inflacionárias globais. Assim, é importante que nossa agropecuária tenha maior apoio, principalmente quanto a crédito, taxas de juros menores e subvenção ao prêmio do seguro rural, para continuar produzindo em larga escala. Trata-se de prioridade absoluta.

Ao respondermos com eficácia à demanda mundial por commodities agrícolas e comida, não apenas ajudaremos a reduzir a insegurança alimentar, como geraremos mais divisas e criaremos melhores condições para a retomada de taxas mais vigorosas de crescimento de nosso PIB. Temos uma clara perspectiva de, ajudando o planeta, reduzir o desemprego dos brasileiros, ampliar o fluxo de investimentos, criar melhor ambiente de negócios e superar as dificuldades fiscais que, a exemplo de muitos países, estamos enfrentando. É fundamental, portanto, aproveitar essa oportunidade histórica.

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