meio ambiente

Artigo: Retrocessos ambientais e ameaças marcam o governo Bolsonaro

Correio Braziliense
postado em 10/08/2022 06:00
 (crédito:  MAURO PIMENTEL / AFP)
(crédito: MAURO PIMENTEL / AFP)

JORGE PONTES - Delegado, escritor e precursor do combate aos crimes ambientais na PF

Apesar do enorme potencial ambiental do Brasil, vivemos, com o projeto bolsonarista, um período de trevas em que contabilizamos inúmeros retrocessos na matéria. E retroceder, em questões ambientais, é algo perigosíssimo, pois não sabemos se ainda nos resta, nessa altura dos acontecimentos, tempo suficiente para revertermos muitos dos danos já causados à natureza.

Com o aumento da devastação de extensas áreas de cobertura florestal, como vem ocorrendo em nosso país — com a explosão da atuação criminosa de madeireiras, garimpeiros e grileiros, estamos perdendo — junto com as árvores — toda uma biodiversidade que nem sequer foi apropriadamente inventariada pela ciência.

E o mais inacreditável é que o governo Bolsonaro, aparentemente, vem atuando com o objetivo de enfraquecer as estruturas de fiscalização e enfrentamento aos crimes ambientais, minando suas resistências por intermédio do aparelhamento das instituições e do afrouxamento das normas de proteção do nosso patrimônio natural.

É a "passagem da boiada", conforme as palavras de Ricardo Salles, ex-ministro de triste memória. O projeto bolsonarista para o meio ambiente é tão somente o desmonte. Não há qualquer traço de preocupação com sustentabilidade, com a salvaguarda das florestas ou da biodiversidade.

O último grande revés nesse tema foi objeto de artigo de Vinicius Sassine, publicado em 4 de agosto na Folha de S. Paulo, que trouxe a notícia de que policiais federais que cuidam de investigações sobre extração de ouro em terras indígenas afirmaram que as Forças Armadas teriam se recusado a fornecer aeronaves para ações que coíbem o avanço da estrutura logística mantida por quem explora essa atividade ilegal. Essa situação, segundo a matéria, estaria acontecendo de forma recorrente.

E exatamente sobre delitos e degradação do meio ambiente no Brasil, acaba de ser lançado, com selo da editora Mapa.Lab, a obra Guerreiros da natureza — a história do combate aos crimes ambientais na Polícia Federal. No livro, registramos fatos e situações, desde os primórdios da criação do braço da PF especializado no combate à delinquência ambiental, passando pela era das grandes operações, pelo enfrentamento de biopiratas, de quadrilhas de contrabandistas de vida selvagem, de madeira ilegal, até o desenvolvimento e aplicação de sofisticadas técnicas de investigação com base em geointeligência, e do estabelecimento de cooperação internacional em alto nível, como suporte aos nossos inquéritos.

Em suma, relata o despertar da consciência ambiental na PF, e a luta que seus agentes, peritos e delegados vêm travando contra a criminalidade ambiental organizada no país, em especial na região amazônica. E trata também dos retrocessos e ameaças atuais, produzindo reflexões sobre essas décadas de trabalho, com o oferecimento de sugestões de caminhos para o futuro.

Finalmente, se não temos conquistas a celebrar em matéria da defesa do nosso meio ambiente, podemos ao menos esperançar, como nação, uma mudança no comando do país, a partir de 2023, por conta das eleições de outubro desse ano. A tragédia ambiental brasileira, operada pelo governo de Jair Bolsonaro, por si só, é motivo mais do que suficiente para que o despejemos do Planalto nessa primeira oportunidade.

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