"Pelo amor de Deus, me ajudem! Tenho fome! Estou desempregado!", gritava o homem, dentro do trem do metrô, quase em lágrimas. Era impossível não se condoer. Aos poucos, cada pessoa contribuía com o que podia, mesmo que com algumas moedas. A fome não espera. Ela corrói as entranhas, mas também a dignidade. Imagine a dor de um pai ou uma mãe que percebe que não tem o que dar de comer aos filhos. Também não tem de onde tirar o sustento. Cada amanhecer é incerteza, medo, desesperança, desalento.
Há tempos não se viam tantos brasileiros desempregados e com fome. No metrô, no ônibus, na porta do supermercado, em qualquer lugar onde acreditam que possam ser vistos e não ignorados. Pelo menos 33,1 milhões de pessoas vivem em situação de fome — 14 milhões passaram a enfrentar essa realidade há um ano. Isso representa 15% da população brasileira. No entanto, mais da metade dos 217,2 milhões de brasileiros convive com algum grau de insegurança alimentar.
O Brasil foi lançado de volta ao Mapa da Fome, três décadas depois. Por favor, não relativizem isso. Não venham com a história de que isso é resultado direto do "Fique em casa, a economia a gente vê depois". Ainda que a pandemia da covid-19 tenha impactado as finanças do Brasil, o governo Bolsonaro jamais apresentou um programa social que fosse capaz de evitar essa catástrofe. A atual gestão nunca apostou em geração de renda e de postos de trabalho. Pelo contrário, escasseou o emprego, ao implodir o regime baseado na CLT.
A inflação torna o quadro ainda mais dramático. A alta no preço da cesta básica também leva a classe média a "flertar" com a insegurança alimentar. No Brasil, muitos daqueles que — ainda — não passam fome veem-se obrigados a reformular o cardápio por itens mais baratos, a fim de não solapar o orçamento doméstico.
A fome não espera jamais. Medidas assistencialistas e populistas de curto prazo não resolvem o problema. Apenas estancam a sangria momentaneamente, mas não impedem o paciente de sofrer uma piora no quadro clínico. O que dirá, então, quando a ajuda tem viés meramente eleitoreiro? Por algumas vezes, o presidente Jair Bolsonaro referiu-se ao Brasil como "o celeiro do mundo". Palavras rebuscadas ou frases de efeito não alimentam famintos. É preciso muito mais.
É preciso empatia por quem está distante da realidade dos gabinetes refrigerados e confortáveis da Praça dos Três Poderes, revirando lixo e implorando por comida. A menos de dois meses das eleições, é preciso que o Estado incorpore a ação que se espera dele: a de responsável pelo bem-estar social de seus cidadãos. Isso inclui o direito de cada brasileiro acordar sabendo que terá alimento à mesa.
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