Rita Lee

Artigo: Viva vovó Rita!

Irlam Rocha Lima
postado em 02/08/2022 06:00
 (crédito:  Guilherme Samora/Divulgação)
(crédito: Guilherme Samora/Divulgação)

A homenagem que Rita Lee receberá em 17 de novembro, durante a 23ª edição do Grammy Latino, pelo conjunto da obra, deve ser vista como reconhecimento à relevante contribuição da cantora e compositora paulistana para a cultura musical do país e, por consequência, do continente Sul-americano.

Como integrante dos Mutantes, chamou a atenção do país, principalmente por acompanhar Gilberto Gil no histórico Festival da Record, de 1967, no qual o cantor e compositor baiano classificou-se em segundo lugar com Domingo no Parque, canção que trazia algo de Beatles em sua concepção.

Logo depois, ela e seus companheiros de banda se juntaram a Gilberto Gil, Caetano Veloso e Tom Zé na deflagração do movimento tropicalista. Não por acaso, na letra do clássico Sampa, composta tempos depois, Caetano se referiu a Rita como "a mais completa tradição" ao citar ícones culturais da capital paulistana. Foi a partir daquela metrópole que a artista, ao tomá-la como principal referência, viu seu trabalho solo — registrado em 20 álbuns — ser consolidado, o que ocorreu a partir de 1975, quando lançou o LP Fruto proibido, por conta, principalmente, da balada Ovelha negra, a música mais tocada pelas rádios naquele ano.

Não demorou muito para que Rita viesse a ser considerada a rainha do rock brasileiro. A irreverência, que foi a marca registrada de sua trajetória, ela imprimiu nos textos de composições como Baila comigo, Caso sério, Doce vampiro e Mania de você, criadas com o guitarrista e compositor Roberto Carvalho, seu parceiro de vida até hoje.

Aos 74 anos, a vovó Rita mantém-se ativa, escrevendo livros, cuidando dos netos, de bichos e de plantas, num sítio na região serrana de São Paulo. Ah, sim! continua compondo e demonstra interesse em gravar álbum de músicas inéditas e produzir um documentário.

Acompanho Rita desde o começo da carreira e fico na torcida para que ela volte atrás em sua decisão de não mais fazer show e resolva retornar aos palcos, para que eu possa, novamente, aplaudi-la ao vivo. Como jornalista, assisti a todas as apresentações da cantora em Brasília, desde o primeiro no ginásio de esportes do Colégio Marista até o último na Esplanada dos Ministérios; além do que fez no Maracanã (Rio de Janeiro), quando abriu o concerto dos Rolling Stones, em 1995.

Também a entrevistei várias vezes. Sempre articulada, costumava fustigar os poderosos de plantão, inclusive, e principalmente, os generais que comandaram o Brasil, nos anos de chumbo. Por conta disso, houve um longo período em que ficou impedida de cantar aqui na capital.

Em 1983, ao voltar à cidade, em meio ao show que fez no extinto Pelezão — onde hoje existe um condomínio de luxo — engatilhou um discurso irônico: "Como aqui gravam tudo — referência explícita ao Serviço Nacional de Informações, o nefasto SNI — vou falar em público. É proibido proibir. Finalmente, depois de oito anos exilada de Brasília, venho propor minha candidatura. Sou candidata a levar alegria ao povo". Foi aplaudida delirantemente por 20 mil pessoas.

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