OPINIÃO

Jéssica Eufrásio: "Despertar político pela educação"

Jéssica Eufrásio
postado em 01/08/2022 06:00 / atualizado em 01/08/2022 09:48
 (crédito: Kleber Sales)
(crédito: Kleber Sales)

Os resultados das campanhas de incentivo à emissão do título de eleitor por jovens de 16 e 17 anos, para quem o voto é facultativo, levaram a um recorde no número de adolescentes aptos a votar. Desde 2010, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) via essa quantidade cair, mas as ações deste ano, turbinadas pela adesão de famosos e influenciadores digitais, levaram esse público a se tornar determinante para o pleito de 2022.

Agora que os apelos funcionaram, é necessário definir formas de não deixar morrer a vontade de transformar. Não é difícil que alguém afetado pelas crises socioeconômicas se indigne com a realidade. Porém, quem não se enxerga como parte da camada mais prejudicada por elas tende a se convencer de que uma situação problemática é normal. Por isso, no caso dos adolescentes, o processo de chamá-los para agir nestas eleições não deve se resumir a uma ação pontual, daqui a dois meses.

No pleito seguinte, esses jovens não terão mais voto facultativo. Logo, provocar um interesse precoce por assuntos como política é essencial para que as ações do presente se reflitam em progressos no futuro e para que os mais novos consigam perceber, o quanto antes, de que lado se encontram: dos beneficiados por uma sociedade desigual ou dos que são vítimas dela.

Para os governantes que não se propõem a investir verdadeiramente na educação, é proveitoso manter a aversão dos eleitores pelo tema e deixar prevalecer a ideia de que não há saída para obstáculos estruturais. Em um cenário assim, torna-se mais fácil que um cidadão aceite viver desamparado pelo Estado em vez de cobrar que o poder público assegure o básico à sobrevivência de todos.

A falta de estímulo à preocupação com tais assuntos torna frágil a sustentação de uma democracia. Na última semana, por exemplo, uma pesquisa encomendada pela revista Justiça e Cidadania ao Instituto Quaest expôs parte da conjuntura: a maioria dos brasileiros (70%) não conhece o significado da sigla STF, de Supremo Tribunal Federal, apesar de terem ouvido falar nele. Questionados sobre as atribuições da Corte, 72% não souberam responder.

Não se pode assumir que só termos técnicos ou a complexidade do funcionamento das instituições afastam delas a maior parte da população. A nítida disposição de atores políticos em manter o sucateamento do ensino está entre os fatores que contribuem para esse desconhecimento, porque favorece alguns e leva ao ceticismo sobre soluções possíveis. Portanto, que a atenção ao despertar da juventude não morra após outubro, pois, se há temor por uma nova guinada rumo ao autoritarismo e pautada pela ignorância, será preciso atuar, desde cedo, em prol de uma população instruída, informada, ciente dos direitos e deveres individuais e coletivos. E, para isso, não há saída senão pela educação.

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