Pertenço a uma geração que ainda lidava com o machismo de forma "amistosa". Lembro-me de quantas vezes eu e minhas amigas rimos de piadas infames de colegas de turma, de como tantas de nós nos relacionamos com homens misóginos, de como enfrentamos todo tipo de assédio. Ou ainda: de só ir ao banheiro num show, por exemplo, acompanhada para não correr risco no caminho; de conviver com a aceitação social sobre uma puxada de cabelo ou uma mão na bunda no carnaval, e por aí vai.
Hoje, olhando para a geração da minha filha, e vendo como tantas mulheres de todas as gerações estão rompendo amarras e grilhões, falando em voz alta nas redes sociais e conquistando espaços, enfrentando o ódio do homem que não aceita o nosso crescimento, digo que tenho esperança. Temos mais do que isso.
Temos leis, acumulamos conquistas e estamos subindo nos espaços de liderança. Temos a tipificação do feminicídio, temos a Lei Maria da Penha. Sabemos que estupro é muito mais do que penetração e que qualquer desacato aos nossos corpos ou toque não consentido é um ato criminoso. Entendemos, muitas de nós, que devemos nos proteger coletivamente. E precisamos ainda lembrar do lugar de privilégio das mulheres brancas e nos desafios muito, mas muito maiores, das mulheres negras.
Aprendemos sobre conceitos de sororidade, etarismo e umas palavras que ainda podem ser um tanto estranhas, mas que configuram violência de gênero, como ghosting (terminar um relacionamento sumindo e sem dar qualquer explicação), gaslighting (o famoso "você está louca ou é coisa da sua cabeça"), mansplaining e manterrupting (práticas de interromper uma mulher quando ela fala) e tantas outras.
Sei que erradicar o machismo é impossível, mas sei que é possível e provável que nós o coloquemos no seu lugar: a exceção e a execração pública. Se choramos por cada mulher assassinada ou violentada, devemos nos solidarizar, nos revoltar, protestar. Mas devemos também lembrar que estamos em processo e que podemos vencer se tivermos atitudes transformadoras.
Somos maioria da população e maioria do eleitorado. Votar em pessoas machistas, preconceituosas e misóginas é ser cúmplice da violência contra a mulher.