O negacionismo e as fake news — aliados a um Ministério da Saúde que emite sinais dúbios sobre vacinação — formam a tempestade perfeita para colocar crianças à mercê de doenças perigosas, que podem provocar sequelas graves e até a morte.
Em meados deste mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) soaram o alerta: o planeta está no maior retrocesso contínuo na vacinação de crianças em 30 anos. E a posição do Brasil nesse cenário é perturbadora. Estamos entre os 10 países com pior desempenho na imunização infantil. Conforme o Unicef, três em cada 10 crianças brasileiras não receberam os imunizantes necessários em 2021.
Nessa toada, o Brasil perdeu, por exemplo, o certificado de eliminação do sarampo, concedido pela OMS. A doença voltou a circular no país. Hoje, a cobertura vacinal para a enfermidade está em 47%, quando a meta é 95%. Outras também ameaçam, como a poliomielite, uma das mais cruéis — pode causar paralisia dos membros e até a morte.
É bem verdade que a cobertura vacinal já vinha caindo no Brasil — em parte pela percepção errônea da população de que uma série de doenças não oferece mais perigo. Mas a isso foram acrescidas a escassez de campanhas de vacinação — outrora massivas — e as investidas de autoridades públicas contra imunizantes.
O Unicef publicou uma lista de orientações aos países para mudar o panorama assustador, entre as quais, a implementação de campanhas para prevenir surtos, adoção de estratégias destinadas a construir a confiança nos imunizantes e o combate à desinformação.
Vacinas são seguras e eficazes, atestadas por autoridades de saúde do mundo inteiro. E é sempre bom lembrar do que diz o Artigo 14, parágrafo 1º, do Estatuto da Criança e do Adolescente: "É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias". Direito de meninos e meninas, dever da família e do Estado.
É perverso e criminoso que crianças sofram com sequelas ou morram por doenças evitáveis, para as quais há proteção: vacinas.