A desaceleração registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor 15 (IPCA-15), que mostra a inflação recuando de 0,69%, em junho, para 0,13%, neste mês, revela o alívio que consumidores de todo o país estão percebendo nos postos de combustível e em serviços de energia elétrica e de telecomunicações, mas não nas gôndolas dos supermercados. Os preços da gasolina caíram 5,01%, assim como os do etanol,8,16%, e puxaram para baixo a prévia da inflação oficial em julho, empurrando para o negativo os preços da energia elétrica (-4,61%) e comunicações (-0,05%), serviços que, assim como os combustíveis, tiveram a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) reduzida e limitada a 18% a partir de projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional no mês passado. O período de 15 de junho a 15 de julho só não fechou com deflação porque a coleta de dado se deu nos dias que antecederam a redução do ICMS, no mês passado.
O fato de a inflação estar em processo de desaceleração é alívio maior, até agora, para os motoristas, ou seja, a parcela da população que tem carro para uso próprio ou trabalho. Isso porque o café da manhã ficou mais caro, com o preço do leite longa vida subindo 22,7%, e o pão francês, 1,47%. Em 12 meses, o leite encareceu 51,69% e o café, 60,29%. Além disso, o valor do óleo diesel, que pesa sobre os preços de todos os produtos transportados por rodovias do país aumentou 7,32% em julho, acumulando reajuste de 61,89%. São esses aumentos que fazem com que a inflação acumulada em 12 meses esteja acima de dois dígitos, fechada em 11,39% em julho. Vestuário (1,39%) e Alimentação e bebidas (1,16%) continuam pressionando o orçamento das famílias.
Esses reajustes fazem com que a desaceleração do IPCA-15 não seja suficiente para que o Banco Central deixe de elevar a taxa de juros mais uma vez no início da próxima semana. A previsão é de que a taxa básica Selic passe dos atuais 13,25% ao ano para 13,75%, encarecendo o crédito e apertando ainda mais o cinto sobre empresas e cidadãos endividados. Com 77,3% das famílias revelando não ter como honrar compromissos financeiros em dia, o aumento da taxa de juros será mais um empecilho, revelando que o fato de o mercado de trabalho dar sinais de recuperação não é suficiente ainda para permitir que parcela significativa dos brasileiros consiga pagar suas contas em dia.
As perspectivas são de que essa situação mude com a aceleração da economia, ainda que de forma tímida. A divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre, em 1º de setembro, deve confirmar o crescimento da economia no primeiro semestre deste ano, com avanço no período de abril a junho, ficando próximo de 0,6% em relação ao primeiro trimestre, quando cresceu 1%. A injeção de recursos com saque extraordinário do FGTS, aumento do Auxílio Brasil, antecipação do 13º de servidores e beneficiários do INSS e lotes de restituição do Imposto de Renda sustenta as perspectivas de maior crescimento econômico este ano, com o mercado elevando as projeções para perto de 2% de alta do PIB em 2022.
O otimismo com a atividade econômica foi reforçado ontem com o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisando as previsões para o crescimento econômico do Brasil este ano — de 0,3%, no início do ano, para 1,7%, agora. Se, de um lado, mais crescimento econômico pode representar mais empregos e mais renda, de outro, é exatamente esse fator que impede o Banco Central de manter a taxa de juros, interrompendo um movimento de aumento da Selic iniciado em março do ano passado.
O registro de desaceleração em junho e uma esperada deflação em agosto, com o aumento do volume de dinheiro em circulação, pode ser a senha para empresários que até agora seguraram reajustes, mesmo com a pressão de custos, promovam aumentos, o que pode acelerar a inflação novamente. O aumento do vestuário que acumula alta de pouco mais de 11% pode ser um exemplo. Como a inflação medida pelo IPCA-15 acumula alta de 5,79% no ano e está acima do teto da meta, o Banco Central elevará a taxa de juros. Com esse cenário, é preciso que o governo atue para que também os preços dos alimentos sejam reduzidos, para que os brasileiros que não têm carro se beneficiem do alívio no bolso, e não apenas sofram com o arrocho no crédito.