Não se pode confundir liberdade de expressão com libertinagem. Fatos devem sempre se sobrepor a "notícias" que são inventadas ou distorcidas para beneficiar um determinado indivíduo ou um setor político. É preciso acreditar no jornalismo como uma das trincheiras em defesa da democracia. E tratar a democracia como joia passível de ser lapidada, protegida, acarinhada, valorizada como deve ser. A imprensa é um dos mecanismos fiscalizatórios do sistema de freios e contrapesos, tão necessário para coibir excessos dos Poderes e impedir qualquer viés autoritário, ou mesmo a instauração de uma tirania.
Soa irônico que os disseminadores de notícias falsas se apeguem à "liberdade de expressão" para propagar mentira e ódio, abastecendo a polarização política e o radicalismo. Impor limites à "liberdade de expressão" não é ferir a democracia. Pelo contrário. Debelar desinformação contribui com uma sociedade mais esclarecida e apta a criar senso crítico com base em fatos. Um povo bem informado faz escolhas sensatas e conscientes nas urnas. A liberdade de expressão se restringe à verdade.
Disseminar falsidades, muitas vezes, representa risco grave a terceiros. Em 3 de maio de 2014, Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, foi linchada e arrastada pelas ruas de Guarujá, como se fosse um animal, depois de um boato difundido por uma página de uma rede social que atribuía à dona de casa o crime de sequestro de crianças para fins de rituais de magia negra. Fabiane não pôde nem sequer se defender.
Quem espalha notícias falsas precisa ser responsabilizado criminalmente por suas consequências. Assim como ameaças a autoridades do país. Sob a pecha da liberdade de expressão, bolsonaristas têm insultado e se levantado contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e contra simpatizantes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao entrevistar a jornalista filipina Maria Ressa, Nobel da Paz em 2021, duas declarações dela me chamaram a atenção: "Mentiras podem matar! Por isso, defendo responsabilizar as plataformas e os governos" e "nada pode bater as mentiras que vão em uma lama tóxica que escorre pelas mídias sociais". Sim, mentiras matam. Inverdades sobre as vacinas contra a covid-19, por exemplo, encorajaram brasileiros a não se imunizarem contra o vírus. Muitos deles morreram por acreditar em falácias.
Ataques ao STF, convocações de protestos antidemocráticos e mentiras devem ser combatidas a todo custo. Isso não é censura. É respeito e zelo pela democracia, tão jovem no Brasil e tão espezinhada por aqueles que se julgam acima do bem e do mal. Às vésperas das eleições, é importante que cada cidadão seja cauteloso em relação à "notícia" que encaminhará para amigos e familiares. É crucial que o jornalismo profissional seja referência na busca da informação. Pelo bem do Brasil.